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A realidade e o tempo da transformação
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Editorial opinião

A realidade e o tempo da transformação

Técnicos do Unicef mergulharam nos dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) para, a partir deles, a situação em que vivem crianças e adolescentes. As conclusões são inaceitáveis no cenário nacional e, ainda mais, quando o olhar foca na realidade cearense
Tipo Opinião

Um dos erros que cometemos atualmente, como sociedade, é a naturalização de determinados quadros sociais e econômicos que, normalmente, deveriam nos mobilizar e indignar mais. Por exemplo, não há como se aceitar passivamente a realidade que está apontada em estudo do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) acerca da situação em que vivem crianças e adolescentes do Ceará em termos de impossibilidade de acesso a direitos que temos como básicos.

Técnicos do Unicef mergulharam nos dados do última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) para, a partir deles, analisar sete dimensões básicas de direitos: renda, educação, informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil. As conclusões são inaceitáveis no cenário nacional e, ainda mais, quando o olhar foca na realidade cearense.

Os dados são de 2023, recentes portanto, e indicam, diante dos critérios estabelecidos, inacreditáveis 73,2% das crianças e adolescentes cearenses vivendo com alguma privação nas áreas analisadas, 1,1 milhão das quais de forma intermediária e outras 575 mil na categoria extrema. É um dado surreal e que ajuda a explicar outros problemas graves que temos, valendo citar o quadro de violência e insegurança pública, derivado sim dessa realidade. É um dos efeitos dele, não há dúvida.

O que mais assusta é perceber que os novos números, comparados aos colhidos em situações anteriores sob os mesmos critérios, apontam uma melhoria na realidade quanto àquela observada no passado. Sim, estamos melhores do que antes, o que beira o absurdo diante da tragédia atual. Para se ter uma ideia, o levantamento anterior, feito em 2019, apontava 79,7% das crianças e adolescentes com alguma privação de direito.

Claro que precisamos dizer que há avanços e que temos melhorado em meio a uma realidade que segue assustadora. O Unicef aponta, no mesmo relatório, para citar um exemplo de aparência positiva, que a taxa de insegurança alimentar entre crianças e adolescentes diminuiu no Ceará, quando comparados os anos. Os dados anteriores indicavam 59,2% das pessoas da faixa etária pesquisada com algum nível de insegurança alimentar, índice que baixou 15 pontos percentuais, em 2023, chegando a 44,2%.

É um indicativo, ao lado de outros que apontam melhorias, de que estamos no caminho certo e há um norte a nos a guiar, ou seja, nem tudo está perdido. Porém, talvez seja o caso de discutirmos o ritmo em que as coisas acontecem e buscarmos formas de acelerar os resultados, porque cada dia perdido é uma perspectiva de vida futura que colocamos em xeque.

O fato de estarmos com foco no que é certo, e estamos, não pode nos tirar a capacidade de indignação diante de uma realidade que precisa ser transformada com urgência. O tempo das coisas, em muitos casos, nessa situação, é a diferença entre a vida e a morte para muitos cearenses.

 

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