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A dignidade dos brasileiros deportados
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Editorial opinião

A dignidade dos brasileiros deportados

Desde quando tomou posse para o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump tem sinalizado para um novo tipo de comportamento do País quanto à sua presença no mundo, mais agressivo do que normalmente tem sido historicamente e nos tempos recentes. Nesse contexto, inclusive, admita-se que uma das promessas mais presentes ao discurso recente de campanha eleitoral do republicano era o endurecimento da política migratória.

De certa forma, portanto, o novo comportamento da Casa Branca tem a ver com acertos feitos com o eleitor norte-americano que deu uma ampla vantagem a Trump nas eleições de outubro de 2024. Claro que nem tudo parecerá justificável por isso, inclusive diante de situações que apontam um evidente desalinhamento com regras internacionais que garantem o equilíbrio geopolítico e impedem que prevaleça a força ou a eventual capacidade bélica de cada um sempre que um conflito apareça.

Por mais legítimo que seja o endurecimento da política tocada pela Casa Branca em relação aos imigrantes indocumentados, trazendo a tolerância com o problema ao seu patamar máximo, é inaceitável o que há sido relevado na repatriação de brasileiros que tiveram situação irregular identificada.

Tratá-los da forma como está denunciado no voo que trouxe 88 nacionais de volta no último fim de semana, como se fossem elementos de alta periculosidade, vai além do aceitável na abordagem do quadro reconhecidamente delicada. Agiu certo o governo ao determinar que em solo brasileiro o tratamento mudasse e fossem retiradas as algemas que impunham sofrimento e humilhação àquelas pessoas, limitando os seus movimentos nas mãos e nas pernas.

O argumento utilizado de que a medida seria necessária em nome da segurança dos agentes envolvidos não encontrava correspondência no perfil do público que formava a lista de deportados, incluindo muitas mulheres e várias crianças. Gente que não tinha como simbolizar o perigo justificador da medida desproporcional adotada.

É importante que as áreas diplomáticas dos dois países conversem para que os dois lados sejam respeitados em meio à delicada operação. Inclusive porque há muitos outros cidadãos nacionais ainda por serem transportados de volta, parecendo importante que condições dignas mínimas sejam observadas. Da parte de cá, as autoridades brasileiras estão obrigadas a agir com firmeza sempre que houver necessidade.

O episódio, aparentemente, apenas inaugura uma temporada de tensões nas relações diplomáticas entre os dois países e seria importante que as nossas forças políticas demonstrassem capacidade de estabelecer um consenso possível. No caso em questão, por exemplo, não faz sentido que objetivos políticos inviabilizem o estabelecimento de uma agenda comum na qual situação e oposição façam prevalecer a defesa dos interesses do Estado e do cidadão. n

 

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