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Editorial: Gaza: "Riviera do Oriente Médio"?
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Editorial: Gaza: "Riviera do Oriente Médio"?

A Faixa de Gaza, território palestino, volta ao centro das atenções com a proposta de uma "riviera", ignorando os direitos de sua população. Comunidade internacional deve reagir indo além de notas e declarações protocolares
Tipo Opinião

Gaza enfrenta crises humanitárias há décadas — e no período nenhuma proposta pareceu solucionar as demandas existentes. Hoje, está destruída e a população vive sob condições precárias em um território ocupado por vizinhos pouco amigáveis durante um frágil cessar-fogo.

Ouvimos então, na última semana, o atual presidente dos Estados Unidos sugerir transformá-la em uma "riviera do Oriente Médio". A proposta de Donald Trump afronta a realidade material e subjetiva palestina. Eis uma fantasia carregada de perspectivas intrinsecamente distintas daquelas de quem faz desta terra lar não só de si, mas também de seus antepassados e de seus descendentes.

O Ministério da Saúde em Gaza registra a morte de 47.540 palestinos desde 7 de outubro de 2023 até 4 de fevereiro de 2025 — sendo a expressiva maioria composta por civis, especialmente mulheres e crianças. Há ainda 111.618 feridos.

A guerra causou quase US$ 18,5 bilhões em danos à infraestrutura, de acordo com avaliações preliminares do Banco Mundial, das Nações Unidas e da União Europeia. Bombardeios israelenses destruíram, além de estruturas ligadas ao Hamas e prédios civis, construções milenares e acervos que guardavam a História de Gaza e a memória de seu povo.

O Centro de Satélites das Nações Unidas (Unosat, na sigla em inglês) calcula que 69% de todas as estruturas estavam destruídas ou danificadas no início de dezembro. São ruas, casas, escolas, universidades, hospitais, mercados, museus, igrejas e templos, bibliotecas... São os espaços formativos e mantenedores de uma sociedade.

Há de se contar ainda as terras agrícolas de Gaza danificadas ou destruídas por bombas e terraplenagens militares. E a biodiversidade dizimada em um território que, mesmo estreito, vai do mar à montanha em um ponto de encontro para a vida selvagem da Europa, do Oriente Médio e da África.

A ONU estima serem necessários pelo menos US$ 6 bilhões para atender às necessidades humanitárias de 2,1 milhões de pessoas na região. Algumas ficaram durante a guerra, a maioria se deslocou e agora volta em meio a destroços, compartilhando (inclusive nas redes sociais) a saudade pelos locais como eram e a disposição de voltar a viver em casa.

Antes do conflito que se estende há 15 meses, o território densamente habitado desenvolvera o turismo local ao longo da costa mediterrânea. À Reuters, palestinos afirmaram, após a fala de Trump, que reconstruirão seus hotéis e restaurantes. Os desafios são vários — e os desejos também.

É preciso criar condições para que o povo palestino exerça sua autonomia e escolha o futuro que deseja. A prioridade do mundo deveria ser garantir às famílias que ali residem, e às que estão voltando, ajuda necessária para o recomeço. Isso acontecerá quando houver mais que notas protocolares contrárias a ideias imperialistas. 

 

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