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O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
A ferrovia Transnordestina promete ser o motor econômico cearense nas próximas décadas. No entanto, se o desenvolvimento vier atrelado à concentração de renda, o Estado não crescerá de fato.
Nesse contexto, a série de reportagens do O POVO — em versão ainda mais aprofundada para assinantes do O POVO , streaming de jornalismo do O POVO — destaca a importância das iniciativas no entorno da Transnordestina para evitar uma eventual "favelização" da área ao redor da ferrovia.
A reportagem, publicada na versão impressa do O POVO na sexta-feira, 14, detalha planos em Quixeramobim, a 212 quilômetros de Fortaleza, que se tornou um canteiro de obras desde o anúncio do investimento de mais de R$ 600 milhões para a instalação de um "porto seco" no Sertão Central do Estado.
O termo "porto seco" ajuda a entender os motivos dessa aposta no futuro. Trata-se de uma instalação voltada à simplificação das operações de exportação e importação de mercadorias, sob supervisão da Receita Federal e localizada longe de terminais marítimos. Na prática, é um investimento capaz de interiorizar o desenvolvimento econômico ao conectar municípios ao fluxo comercial.
A infraestrutura logística planejada pela empresa Value Global prevê a construção de uma verdadeira "cidade" industrial, com mais de 360 hectares (o equivalente a 504 campos de futebol), mais do que o dobro do tamanho da sede de Quixeramobim, que possui 150 hectares.
O enorme fluxo de trabalhadores trará desafios. Na verdade, já traz, conforme mostra a reportagem do O POVO. Ainda em fase inicial, as obras demandam um grande número de operários, o que tem causado um colapso na tímida rede hoteleira de Quixeramobim. Segundo o prefeito do município, Cirilo Pimenta, até mesmo os motéis da região já estão lotados.
Com um "porto seco" totalmente funcional, os municípios do entorno precisarão se movimentar para suprir a demanda por recursos humanos. Trabalhadores qualificados, atraídos pela oportunidade de crescimento, migrarão para Quixeramobim — e precisarão de moradia.
A reportagem evidencia um movimento articulado: a empresa Value identificou a demanda; a Prefeitura de Quixeramobim busca atualizar o Plano Diretor do Município; e o Governo do Ceará pretende realizar um mapeamento geoespacial que possa ser replicado em um futuro porto seco no sul do Estado, em Iguatu. É necessário um esforço concentrado, com objetivos alinhados.
O alerta é para evitar a especulação imobiliária, um mecanismo que pode impedir o desenvolvimento digno da população que trabalhará no entorno da Transnordestina. O professor Renato Pequeno, pesquisador do Laboratório de Estudos da Habitação, da Universidade Federal do Ceará (Lehab/UFC), chama a atenção para o risco da concentração de terras nas mãos de especuladores. A retenção de áreas subutilizadas, aguardando valorização para posterior venda, reduz a oferta no mercado imobiliário e acelera a favelização, que se alimenta da escassez de terrenos disponíveis para construção.
Cabe ao Estado e ao poder público impedir a especulação imobiliária por parte de poucos, garantindo a oferta de habitação para todos. O porto seco deve promover um desenvolvimento equilibrado no interior do Ceará.
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