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Alta dos alimentos, um problema complexo
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Editorial opinião

Alta dos alimentos, um problema complexo

A situação é muito mais difícil do que faz parecer o presidente Lula, em sua busca por "culpados"

A inflação dos alimentos tornou-se a maior preocupação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois que o aumento de preços foi apontado, por diversas pesquisas, pela queda de sua popularidade. A rejeição ao governo foi observada mesmo em setores em que o presidente costuma ter ampla aceitação, como as pessoas de baixa renda e a população nordestina.

Assim, disparou-se um alerta no governo, que tomou medidas pontuais para tentar conter a alta nos preços ou, pelo menos, estancar a sua elevação. Entre elas, zerar os impostos de importação para alguns produtos alimentícios, aumentar os estoques reguladores e incentivar a produção de alimentos da cesta básica no Plano Safra.

Ao mesmo tempo, Lula entendeu que deveria buscar "culpados" pela disparada nos preços, iniciando uma série de discursos nos quais dizia que iria identificá-los. Ora, acusava "pilantras" pelo aumento do preço do ovo; ora, criticava decisões do Banco Central que, segundo ele, teriam contribuído para a alta do dólar, impactando no preço dos alimentos.

O problema é que a situação é muito mais complexa do que faz parecer Lula. Não existe "um" culpado pela alta dos preços, mas uma série de fatores, a maioria deles fora do controle do presidente. É comum que governantes busquem apontar um agente ou grupo de pessoas, supostamente mal-intencionadas, quando sentem dificuldade em superar algum obstáculo.

Reportagem no O POVO (18/3/2025), assinada pelo jornalista Samuel Pimentel, mostra que as altas taxas inflacionárias alcançam também os principais países do mundo — como aqueles da zona do euro, Reino Unido e Estados Unidos —, com causas parecidas com as que atingem o Brasil. Entre elas, o aumento do preço das commodities no mercado internacional e a pressão pelo consumo.

Internamente, a valorização do dólar faz com que os agroprodutores prefiram vender sua produção no mercado internacional, por ser mais lucrativo. Lista-se ainda entre as causas da elevação dos preços, a um movimento de troca de cultura, que vem acontecendo de forma acelerada no Brasil. O agronegócio está deixando de produzir alimentos básicos, trocando-os por lavouras de soja e milho voltada para a exportação.

Estudo do economista Luiz Guilherme Schymura, citado na reportagem, mostra que entre 2012 e 2024 a alimentação no domicílio teve alta de 162%, mas inflação geral ficou em 109%. Além disso, Schymura chama a atenção para o impacto das mudanças climáticas na produção agrícola.

Considerando esses aspectos, é voz corrente entre especialistas que o plano do governo para baratear os alimentos deve ter impacto limitado. Isso não significa que as medidas não devem ser implementadas, mas que o governo tem de reconhecer o tremendo desafio à sua frente, em vez de buscar culpados. n

 

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