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"Caso da Hilux": prescrição vergonhosa
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Editorial opinião

"Caso da Hilux": prescrição vergonhosa

É vexatório para o Judiciário cearense não apenas que nenhum dos PMs acusados de metralhar um veículo com quatro turistas em 2007 tenha sido condenado, mas que três dos policiais implicados vejam-se agora livres da sentença por prescrição de punibilidade.

Em bom português: o tempo passou sem que a Justiça haja efetivamente analisado os recursos interpostos pelas defesas dos fardados, ainda em 2018. Como se trata de crime praticado quase duas décadas atrás, houve um lapso temporal durante o qual os agentes responsáveis pela aplicação da lei falharam.

Ao menos é isso que se evidencia em toda essa demora num caso que se mostrou rumoroso à época, tanto pela forma atabalhoada com que os soldados agiram, atirando a esmo em um carro com passageiros confundidos com criminosos, quanto pela proporção da força na investida: mais de 20 disparos sem que houvesse certeza sequer da identificação do modelo e das pessoas em seu interior.

Naquela noite de setembro de 2007, não custa lembrar, o casal Innocenzo Brancati e Denise Sales Campos Brancati se deslocava pela avenida Raul Barbosa, nas proximidades do bairro Lagamar. Retornando do Aeroporto Internacional Pinto Martins, eles estavam em companhia de Marcelino Ruiz Campelo e Maria Del Mar Santiago Almudever, espanhóis recém-desembarcados na capital cearense.

O patrulhamento local então cometeu erros em série: confundiu a Hilux dos estrangeiros com um transporte usado por indivíduos que havia pouco tinham assaltado um caixa eletrônico na periferia da cidade. Além disso, a despeito de os condutores não oferecerem resistência ou ameaça, puseram-se a metralhá-los. Por sorte, não houve mortes.

Os envolvidos foram indiciados por tentativa de homicídio. Do grupo, uma parte foi sentenciada quatro anos depois, mas apelou ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE). Outra ala foi levada a júri popular. Ao cabo de tantos anos, ninguém seria de fato punido, uma excrescência sob qualquer ângulo que se avalie a história.

O prejuízo, contudo, vai além do que naturalmente deriva dessa patente leniência em episódio que, se não redundou em tragédia, foi por pura contingência. Afinal, o Ceará tem como um de seus trunfos econômicos o turismo, vitrine nacional e internacionalmente bem posicionada. No território, há grande afluxo de viajantes oriundos da Europa, notadamente da Itália e da Espanha, países-mães das vítimas daquela malfadada operação policial.

Que imagem, portanto, se projeta de um estado cuja justiça se desincumbe de adotar sanção rigorosa contra os autores de uma barbaridade semelhante, na qual se revela uma dupla falência, policial e judicial?

Logo, a ausência de punição a quem tenha tomado parte nessa "ação desastrosa", como classificou O POVO na primeira página, é uma mácula que se reflete no Ceará como destino turístico, hoje mais ainda, mesmo que se esteja falando de evento já de muito passado. n

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