elio-gaspari

Tomar dinheiro de desempregado é covardia

Edição Impressa
Tipo Notícia
1711elioGASPARI (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 1711elioGASPARI

O doutor Paulo Guedes garantiu a sua presença nos anais da ciência econômica: propôs a taxação dos desempregados para financiar um programa de estímulo ao emprego. Não se conhece iniciativa igual no mundo, nos séculos afora.

Pela proposta da ekipekonômica, os brasileiros que recebem o seguro-desemprego, que vai de R$ 998 a R$ 1.735, pagarão de R$ 75 a R$ 130 como contribuição previdenciária. O sujeito perdeu o emprego, não tem outra renda, pede o benefício, que dura até cinco meses, e querem mordê-lo em 7,5% do que é pouco mais que uma esmola.

Se isso fosse pouco, no mesmo pacote a ekipekonômika desonerou os empregadores que aderirem ao programa do pagamento de sua cota previdenciária de 20%. Tinha razão o poeta Augusto dos Anjos, "a mão que afaga é a mesma que apedreja", mas o doutor Paulo Guedes afaga para cima e apedreja para baixo.

Tomar dinheiro dos miseráveis era coisa comum no tempo da escravidão. Em 1734, para combater "a ociosidade dos negros forros e dos vadios em geral" a Coroa cobrava quatro oitavas de ouro a cada bípede livre que vivia na região das minas. Em 1835 a Assembleia da Bahia tomava dez mil réis de todos os negros libertos nascidos na África. Esse imposto rendia um bom dinheiro, algo como 7,6% do orçamento da província. Eram tungas de outra época.

No século XXI, a ekipekonômica de Guedes quer arrecadar R$ 11 bilhões em cinco anos com argumentos mais refinados e cosmopolitas. Como o programa de estímulo ao emprego (e à propaganda oficial), gera despesa, deve-se indicar uma fonte de receita para custeá-lo. Sob o céu de anil deste grande Brasil, os doutores miraram no bolso dos desempregados que conseguem acesso ao seguro, um benefício restrito aos trabalhadores do mercado formal. Em julho, 11,7 milhões de pessoas trabalhavam sem carteira assinada.

O argumento dos doutores pode ser uma girafa social, mas parece matematicamente correto. É intelectualmente desonesto porque o programa de estímulo ao emprego dos jovens durará só até 2022, enquanto a tunga do seguro dos desempregados ficará para sempre.

Há três semanas, neste espaço, Eremildo, o Idiota, propôs que, junto com a discussão do fim dos incentivos à energia solar, se pensasse também na cobrança de um imposto aos desempregados, pois eles usam os serviços públicos e não contribuem para a caixa da Viúva. Eremildo é um cretino assumido e se orgulha disso.

O Dossiê Bragança

No clima de feijoada da ascensão e queda do deputado Luiz Phillipe de Orleans e Bragança no seu voo para vice na chapa de Jair Bolsonaro surgiu uma nova vertente: nunca teria existido dossiê algum contra o príncipe.

O deputado e Bolsonaro já disseram que sua candidatura estava com os papéis passados até que Gustavo Bebianno mostrou um dossiê que o incriminava por comportamentos horizontais.

Até as 18 horas da véspera do prazo fatal para o registro da chapa, o capitão estava fechado com o príncipe na vice. Bragança explodiu num telefonema de Bolsonaro para Bebianno às 4 horas, da madrugada. Nele, o capitão teria falado na existência de um dossiê e o deputado Julian Lemos, que estava com Bebianno, é testemunha disso. Não se sabe o que aconteceu entre o fim da tarde e a madrugada (na manhã anterior, o príncipe chegou com duas horas de atraso para uma reunião com o capitão).

Bolsonaro encontrou Bebianno no dia seguinte e, pela lembrança do ex-ministro, não se voltou a falar do dossiê. Nem então, nem nunca mais.

Uma coisa é certa: fala-se nesse dossiê há mais de um ano, mas ninguém o viu.

Bolsonaro x Mourão

Ganha um fim de semana em La Paz quem souber o que os contribuintes ganham com as caneladas de Jair Bolsonaro no seu vice Hamilton Mourão.

É verdade que o general entrou em campo apresentando-se como contraponto ao capitão, mas há uns seis meses ele está quieto como um monge.

A voz do atraso

O doutor Lélis Teixeira, ex-presidente da Fetranspor, a cabeça do cartel dos ônibus do Rio de Janeiro, passou um tempo na cadeia e está colaborando com a Viúva. Nessa meritória condição, contou que negociou com a mulher de um desembargador uma propina de até R$ 6 milhões para travar uma licitação de 93 linhas de ônibus na cidade.

Em 2017, quando ele foi levado para depor, a Fetranspor deu uma aula de civismo informando que "Lélis Teixeira é um executivo que tem em seu currículo um histórico profissional invejável. (...) Colabora diuturnamente para a melhoria do serviço de transporte por ônibus no Rio de Janeiro". Nessa função foi um divulgador das melhores práticas de administração liberal. Portava-se como um mestre.

Na sua atual colaboração, o doutor Lélis já produziu 25 anexos, contando suas práticas e as das pessoas com quem lidava. O professor só encalacrou gente que, como ele, não anda de ônibus.

Obras paradas

No ministério da Infraestrutura cozinha-se a ideia de mobilizar os R$ 3 bilhões tomados às empresas apanhadas em malfeitorias para tocar algumas das 16 mil obras paradas no País.

A ideia é ótima, mas o Tinhoso mora nos detalhes.

Sem chanceler

Se Bolsonaro tivesse um ministro das Relações Exteriores, os invasores da embaixada da Venezuela teriam sido detidos em poucas horas e, no mínimo, identificados numa delegacia de polícia.

Se Bolsonaro tivesse chanceler, durante a reunião com os colegas ele não seria servido de água por um militar fardado.

Lição boliviana

No coquetel de golpes e contragolpes da Bolívia, o hábito fez com que se descarregasse nas forças armadas a responsabilidade pelo desfecho.

Olhando-se com mais atenção, vê-se que o estopim foi uma rebelião de unidades da polícia. A primeira delas aconteceu na Unidade Tática de Operações de Cochabamba, uma espécie de Bope. Horas depois rebelaram-se as tropas policiais de Santa Cruz de la Sierra e de Sucre.

O problema da juíza

Há um ano, tomando um depoimento de Lula no juízo federal de Curitiba, a doutora Gabriela Hardt resolveu enquadrá-lo quando percebeu que pretendia fazer um pequena comício: "Se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema".

Lula aquietou-se, mas quem acabou tendo um problema, grande, foi ela.

Tendo copiado (sem ler) um trecho das alegações finais do MP em outro processo, anulado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, pode ter criado o precedente para derrubar a sentença em que condenou Lula pelo caso do sítio de Atibaia, que, ao colar, ela chamou de "apartamento".

Brics

Um dia alguém escreverá a história do Brics, uma associação de países que surgiu do nada, rumando para lugar algum.

Nela ficará registrado que o evento começou a acabar no encontro de 2019, em Brasília.

Essa notícia foi relevante pra você?
Logo O POVO Mais