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Lula, política não é futebol!
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Professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece)

Lula, política não é futebol!

O governo não saiu para o embate discursivo. As imagens de Lula no episódio se limitaram a uma transferência de pix para seu time de futebol, num valor que, com toda certeza, faria muito bem a muitos brasileiros
Após onda de desinformação, governo Lula decidiu revogar o monitoramento do Pix
 (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil Após onda de desinformação, governo Lula decidiu revogar o monitoramento do Pix

Anos ímpares costumam ser de “tranquilidade” política. Uns tomam posse de mandatos conquistados no ano anterior, concentrando a atenção da imprensa, da classe política e do público em geral. Outros, rumando para a segunda metade dos mandatos, vão dando continuidade a seus feitos objetivando a recondução no ano seguinte. Era assim que a coisa funcionava. Tudo mudou.

A razão da mudança? A transformação da esfera pública a partir da lógica e da gramática das redes digitais. E, a nível nacional, no caso brasileiro, isso se dá num momento em que parcela considerável daqueles que hoje formam a oposição foi forjada a partir de tal gramática, agindo por meio do que se pode considerar uma “mobilização infinita”. Não há, para ela, um tempo “não-político” ou de “não-mobilização”. São “sentinelas”, insistindo “oportuna e inoportunamente” em denunciar o que entendem ser “mal feitos” do governo, desgastando-o o quanto puderem.

A crise em torno da nota técnica sobre o pix deu-nos mostras dos problemas de comunicação e credibilidade pelos quais o governo Lula 3 vem atravessando. Mesmo contando com o explícito apoio dos principais órgãos de imprensa naquilo que podemos nomear de campanha de esclarecimento e de desmentidos de fake news acerca da referida nota, o enquadramento que, de fato, se cristalizou rapidamente na cabeça do brasileiro foi aquele sugerido no vídeo viralizado do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). A ideia de produzir a taxação dos mais pobres, informais, que “dão o duro” para ganhar a vida logo tomou feição de uma “opinião pública” com considerável densidade.

O governo não saiu para o embate discursivo. As imagens de Lula no episódio se limitaram a uma transferência de pix para seu time de futebol, num valor que, com toda certeza, faria muito bem a muitos brasileiros. Ele não entende, ainda, que política não é futebol. A ele cabia a discursividade da justificativa para legitimar a decisão, como ensina Charaudeau, importante analista do discurso. Ele preferiu a lógica da galhofa, desprezando a seriedade que é a vida econômica dos brasileiros.

A oposição, corporificada no deputado mineiro, fez o que lhe cabe: apontar o “mal” – a taxação – e os seus “agentes” – o governo. Tudo no plano da discursividade. O governo abandonou o campo – o político, não o do futebol. Lá, a oposição vencerá por w.o.?

Foto do Emanuel Freitas da Silva

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