Logo O POVO+
Guerras culturais e espirituais
Foto de Emanuel Freitas da Silva
clique para exibir bio do colunista

Professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece)

Guerras culturais e espirituais

Estamos em meio a uma guerra cultural (que alguns dizem ser "espiritual") que tende a corroer os alicerces de nossa combalida democracia
Tipo Opinião
Frei Gilson: saiba horário e onde assistir lives para Rosário da Quaresma (Foto: Reprodução/X@FreiGilsonCMES)
Foto: Reprodução/X@FreiGilsonCMES Frei Gilson: saiba horário e onde assistir lives para Rosário da Quaresma

Nas últimas semanas três fatos nos deram mostras do embaralho em que estamos ao fundir tão estreitamente os interesses da religião com a política, fazendo com que esta serve aos desejos daquela (leia-se "interesses daqueles que dizem falar em nome da religião"). Estamos em meio a uma guerra cultural (que alguns dizem ser "espiritual") que tende a corroer os alicerces de nossa combalida democracia.

No primeiro deles, um conjunto impressionante de inverdades e confusões no episódio "Frei Gilson". O fato de ter sido "criticado" pelas declarações que deu na semana do dia 8 de março (acerca da submissão da mulher e da "liderança" nata dos homens) transformou-se, para os objetivos da extrema direita, em "ataque" e "perseguição" ao frade que "reúne milhões de brasileiros de madrugada para orar".

A "crítica" foi noticiada como "ataque" da esquerda (leia-se "governo Lula e PT"), e o frade foi noticiado como "atacado" por ser um "bolsonarista". A mensagem acerca da posição da mulher foi completamente esmaecida.

No segundo, vimos uma deputada federal do Psol acionar o MP após a cantora Baby do Brasil pedir que mulheres violentadas "perdoassem" seus agressores, mesmo se estes fossem de seu círculo íntimo.

A cantora veio a público explicar as razões de ter dito o que disse. É que a deputada talvez não saiba o que significa a lógica do perdoar setenta vezes sete, e isso não tem que ver com a "justiça".

Como no episódio do frade e de sua mensagem sobre a mulher, que fundamenta (gostemos ou não) a doutrina católica e cristã, a ideia do perdão geral é basilar para o cristianismo e a cantora estava no terreno da religião, ministrando um culto, não numa audiência pública.

Aqui no Ceará, uma deputada estadual, em "nome do estado laico", conseguiu ser notícia ao "denunciar" a presença de um livro que, segundo ela, ensina "religião afro". Um horror e uma afronta aos "valores cristãos", em suas palavras.

Nas próximas semanas deverão vir mais episódios em que a religião e sua gramática darão as cartas em "polêmicas" que só fortalecem o poder daqueles/as que a instrumentalizam para acumular prestígio. 

 

Foto do Emanuel Freitas da Silva

É análise política que você procura? Veio ao lugar certo. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?