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Não há comparação entre Bolsonaro e Lula
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Não há comparação entre Bolsonaro e Lula

Atuais governo e presidente têm problemas. Mas antecessor era disfuncional e aberrante. Ao se abrigar na Embaixada da Hungria, mostrou-se pequeno e fez papel ridículo
Tipo Opinião
BOLSONARO na Embaixada da Hungria (Foto: Reprodução/The New York Times)
Foto: Reprodução/The New York Times BOLSONARO na Embaixada da Hungria

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem pontos negativos que chamam mais atenção que os positivos. Há bons resultados na economia e pouco mais. Uma gestão que parece envelhecida nas ideias e práticas. Nas relações internacionais, onde praticamente só havia a avançar depois da terra arrasada de Jair Bolsonaro (PL), o presidente conseguiu de desgastar dentro e fora do Brasil, um feito. Mas, a avaliação sobre o mandato de Lula se dá no âmbito da análise de políticas públicas. Trata-se de observar acertos e erros de um governo. Está-se no âmbito da civilização. O ridículo protagonizado por Bolsonaro na Embaixada da Hungria serve para lembrar que não há comparação entre um e outro.

O governo Bolsonaro era disfuncional. Não é questão de ser bom ou ruim, mas simplesmente não se enquadrar naquilo que um governo deveria ser. Estava abaixo da crítica. O ex-presidente, como chefe de Estado, foi uma aberração. Mostrou o quão é patético ao se abrigar numa embaixada estrangeira. Numa cena burlesca, foi bater à porta da diplomacia húngara na noite de segunda-feira de Carnaval, dias após ter passaporte apreendido justamente para não se evadir do País, e menos de uma hora depois de gravar vídeo para convocar manifestação em 25 de fevereiro. Picadeiro orquestrado para sinalizar que haveria comoção se ele fosse preso.

Ofereceu ainda um argumento indigente. Disse que costuma visitar embaixadas e foi lá para "se atualizar". Ora, comprem-me um bode. O bonito achou de fazer a visita na noite de segunda de Carnaval? E ainda ficou para dormir. Levou travesseiros e panos de b… ops, panos de nádegas. Sendo que ele tem residência a alguns poucos minutos de distância dali. No mínimo, uma inconveniência.

Tal como ocorreu com Lula, parece-me que a intenção do Judiciário é não prender Bolsonaro sem que haja condenação. Para não ser uma prisão cautelar, precária por natureza e mais passível de questionamentos e de gerar instabilidades.

Porém, se fosse com você ou comigo, a gente sob investigação e fosse dormir algumas noites numa embaixada, a gente ia para o xilindró.

Lula rejeitou progressão da pena

É flagrante o contraste entre Lula se entregando à Polícia Federal enquanto Bolsonaro buscou abrigo em embaixada. Mas, chama-me mais atenção ainda outro episódio. Em setembro de 2019, quando já estava havia mais de um ano e cinco meses na prisão, Lula tinha cumprido mais de um sexto da pena, o Ministério Público Federal defendeu que ele passasse da prisão em regime fechado para o semiaberto. Sairia durante o dia, com tornozeleira eletrônica, e retornaria à noite. Lula não aceitou. “Quero que saibam que não aceito barganhar meus direitos e minha liberdade”, disse em carta lida pelo advogado, o hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin. Lula deixou a cadeia 40 dias depois, com a condenação anulada.

Cinismo

O episódio da embaixada mostra quão pequeno é Bolsonaro. Não só. É cínico. “Dormir na embaixada, conversar com embaixador, tem algum crime nisso?”, ele perguntou. Não, Pedro Bó. Mas, quando se tem a Polícia nos costados, a possibilidade de fuga é justificativa para prisão.

Tal qual quando perguntou se era crime decretar Estado de sítio. Não, mas usar o instrumento para prender ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e reverter resultado eleitoral é crime e é golpe. A desfaçatez é método.

Quem disso usa disso cuida

Curioso que, em 2018, Bolsonaro levantou a suspeita de que Lula poderia fugir do Brasil para não ser preso. “Estaria Lula preparando uma saída estratégica temendo uma condenação?”, especulou o então deputado quando assessores que Lula mantinha, na condição de ex-presidente, foram autorizados a viajar à Etiópia, onde o ex-presidente faria palestra. A viagem não ocorreu porque o passaporte do hoje presidente foi retido.

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