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Ciro Gomes não tem um amigo?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Ciro Gomes não tem um amigo?

Ciro tem muita gente ao redor dele. Tem quem se acostou porque ele tem poder, ou tinha. Porque é popular, ou era. Há uma legião de puxa-sacos nas redes sociais, capazes de defendê-lo das piores coisas. Mas, haverá um amigo de verdade, capaz de ser franco com ele?
Tipo Opinião
CONVENÇÃO do PDT em abril de 2023, quando a crise no partido estava longe do pico (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal CONVENÇÃO do PDT em abril de 2023, quando a crise no partido estava longe do pico

A fala de Ciro Gomes (PDT) contra a senadora em exercício Janaína Farias (PT) impressiona de tão vulgar, mas, infelizmente, não surpreende. Se contar a alguém que um político falou o que ele disse de uma mulher e pedir para a pessoa adivinhar o autor, as apostas recairão sobre Jair Bolsonaro (PL) ou Ciro Gomes. E, quer saber, nem é tanto o estilo do Bolsonaro, quase insuperável em ser grosseiro, ainda mais com mulheres, mas de modo diferente. Ciro deveria refletir sobre isso.

Claro que se pode criticar a posse de uma segunda suplente. Não que seja inédito. Está cheio de suplente que assume — eles existem para isso. Abre-se espaço por acordos políticos. Às vezes os suplentes são doadores de campanha, então vem a retribuição. Mesmo sendo comum, pode-se questionar a falta de expressão pública de Janaína. Ela é uma pessoa de bastidores e a maioria da população não sabe quem ela é. Mas a crítica do Ciro explora a intimidade. Não a ataca como política, como agente pública, como suplente de senadora. É na condição de mulher.

Ele não apenas disse em uma entrevista. Não foi arroubo impensado. Ele repetiu em mais de uma ocasião, até encontrar alguém que achasse que era algo a se publicar. Ele queria dizer aquilo, deliberadamente. Queria que ouvissem. Já pagou politicamente por machismo no passado, mas não aprende.

Será que Ciro não tem um amigo? Alguém para dizer: “Não fale uma coisa dessas”. Se não pela indignidade da agressão, se não por ser um desrespeito absurdo a uma senadora e mulher, ao menos para ele se resguardar. Se ele não tem consideração por outra pessoa, ao menos para se preservar. Não há quem o aconselhe?

Ciro tem muita gente ao redor dele. Tem quem se acostou porque ele tem poder, ou tinha. Porque é popular, ou era. Há uma legião de puxa-sacos nas redes sociais, capazes de defendê-lo das piores coisas. Mas, haverá um amigo de verdade, capaz de ser franco com ele? Faço votos que sim. Não é possível que só haja ao redor dele gente para aplaudir, dar tapinha nas costas e falar que ele tem razão.

O Ciro, por polêmico que seja, é parte da história do Ceará. No debate político nacional, tem ideias que merecem ser discutidas, com programa e propostas. Mas, a cada dia dá passos para trocar o lugar que ocupa na história por um menor e menos respeitável.

Admira-me o PDT

Se a fala de Ciro Gomes, tristemente, não surpreende, muito me admira o insigne Partido Democrático Trabalhista no Ceará ter a coragem de defendê-lo. Alguém teve a audácia de escrever uma nota para, veja só, expressar solidariedade. À vítima? Não, ao agressor. E alguém teve o atrevimento de tornar pública.

O PDT é um partido com história, reputação. O presidente estadual é Flávio Torres, ex-senador. O presidente nacional é André Figueiredo. No comando municipal está Roberto Cláudio. Não me parece que a chancela às palavras de Ciro seja compatível à trajetória de algum deles.

O prefeito José Sarto — de quem se pode dizer tudo, mas nunca vi ser deselegante, pelo contrário — ele irá se atrelar a isso? Irá submeter a articulação política a defesa pública a esse tipo de postura? A mim me surpreende.

Não esperava que brigassem. Não imaginei deles algum tipo de censura. Solidariedade, porém, já é demais.

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