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Quem é cúmplice de quê?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Quem é cúmplice de quê?

A alegação do prefeito tem jeito, cara e cheiro de duas coisas: exploração eleitoreira e se eximir de responsabilidade
Tipo Opinião
ELMANO de Freitas (PT) e José Sarto (PDT) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES ELMANO de Freitas (PT) e José Sarto (PDT)

O uso das redes sociais de personalidades públicas, como regra, é profissionalizado. Tem gente que só abre conta quando pretende sair candidato a alguma coisa. Há casos desde os que cuidam pessoalmente aos que delegam 100%. Mas, raros políticos em posição de maior visibilidade deixam de ter um acompanhamento profissional das redes. Nesse processo, são criadas personas, adaptadas à linguagem do meio. Não correspondem exatamente à personalidade do dono da conta, e isso faz parte. Costumam ser mais despojadas. Há um toque de humor e são exploradas lacunas no perfil e características que a pessoa não tem, como forma de compensação. Um exemplo são as redes sociais do vice-presidente Geraldo Alckmin. Ele é uma pessoa, digamos, pacata. Já foi chamado “picolé de chuchu”. Mas nas redes sociais é todo cheio de graça. Agora mesmo, depois que o presidente Lula (PT) cobrou que Alckmin seja mais ágil, ele postou um meme do Papa-Léguas.

Porém, a construção da persona precisa ser coerente com a personalidade em questão. Na segunda-feira, no podcast Jogo Político, eu até brinquei que o uso da hashtag "vai ver se eu tô na esquina" não me pareceu nem de longe algo que o prefeito José Sarto (PDT) diria. Tem toda cara de coisa de marqueteiro. Num pequeno bate-boca pré-eleitoral, faz sua graça e desconcerta o adversário. É inofensivo.

Já ao falar sobre o assassinato dentro do Instituto José Frota (IJF) e em escola municipal, sugerir cumplicidade do Governo do Estado com facções é forte e grave. No mínimo, no mínimo, o prefeito foi precipitado. Em relação ao IJF, nada do que se soube nos momentos seguintes autoriza a insinuação.

Uso eleitoreiro

Sarto conseguiu um feito. O Governo do Estado ter razão em algo relacionado a segurança pública é coisa rara. A situação é de descalabro. É crítica há muito tempo. Os resultados são ruins e não parece se estar no rumo de uma melhora.

O prefeito já fez cobranças corretas e necessárias, sobre a presença de facções criminosas em territórios, que obstruem o acesso da população a serviços e impedem o poder público de chegar aos lugares que precisa atender. Pode falar em incompetência, inoperância, ausência de soluções, descalabro, situação inaceitável. Mas, mencionar cumplicidade, com o que se sabe, vai além do limiar da responsabilidade.

Até porque a situação da segurança é periclitante, no mínimo, desde 2010, se formos complacentes. Mas, até 2022, ninguém nesse grupo falava em problema. Roberto Cláudio deixou a presidência da Assembleia Legislativa e assumiu a Prefeitura em 2013 e mal se falava em facções. A criminalidade era atribuída ao crack. E os grupos criminosos estavam, àquela altura, ganhando espaço e se fortalecendo. Sarto era líder do governo. Todo esse pessoal era cúmplice? Ou só ficou ruim agora, depois que romperam? Até 2022 era uma beleza?

A alegação tem jeito, cara e cheiro de duas coisas: exploração eleitoreira e se eximir de responsabilidade.

Sobre cumplicidade, o prefeito deve ainda explicação sobre se houve alguém que ajudou o criminoso a acessar o hospital ou é o sistema de identificação facial que é falho mesmo. Há responsabilidade municipal não assumida.

Sarto tem personalidade ponderada. Iria me admirar muito se um repórter chegasse à redação e comunicasse que o prefeito, de viva voz, teria feito semelhante alegação. Quem cuida das redes sociais precisa ter o cuidado de que o político sustente a persona. Duvido que Sarto o faça, e espero que não. Mas, autorizou e delegou. A responsabilidade é dele.

A campanha vai ser longa.

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