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Como faz democracia interna num consórcio político?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Como faz democracia interna num consórcio político?

O experimento político no poder do Ceará, pelo modelo de coalizão, tem características bastante peculiares. As estruturas partidárias, organizadas nacionalmente, não costumam ter soluções para esse tipo de arranjo
ENCONTRO do PT escolheu Evandro para ser candidato (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES ENCONTRO do PT escolheu Evandro para ser candidato

Partidos têm seus métodos de tomadas de decisão interna. O Ceará é governado desde 2007 por um experimento político que desafia procedimentos. O normal numa eleição é o seguinte: a agremiação escolhe o candidato e os possíveis aliados decidem se apoiam ou não. Entretanto, há 17 anos o Ceará tem no poder uma coalizão que levou a novo patamar a ideia de alianças eleitorais.

O senador Cid Gomes (PSB) criou a receita. Camilo Santana (PT) deu continuidade e, com o tempo, introduziu características próprias. O governador Elmano de Freitas (PT) precisa recompor a base depois do rompimento de 2022. Nesse consórcio político, um só partido não possui a hegemonia a ponto de ter governabilidade plena. Quando Cid foi eleito, ele tinha como alicerces o PSB, ao qual era e novamente está filiado, ao lado de PT e PMDB. Na eleição de Camilo, o PMDB rompeu e depois voltou, já MDB. O grupo do PSB passou por Pros e PDT, até voltar aonde estava. Os pilares hoje são PT e PSB. Mas MDB, PSD, Republicanos e Progressistas são outras forças importantes. A questão é: qual a participação dos aliados para definir candidatura numa mixórdia dessas?

Na era Tasso Jereissati, o PSDB tinha muitos aliados, mas havia uma hegemonia muito clara, quase absoluta. Então, a sigla decidia o candidato e os outros apoiavam se quisessem. Numa coligação que possui maior equilíbrio de forças e se pretende mais participativa, como tomar esse tipo de decisão envolvendo os apoiadores?

O PT escolheu Evandro Leitão para concorrer a prefeito de Fortaleza. Foi votado, teve um longo processo. Agora, dizem, vão conversar com os aliados. Mas, para falar sobre o que mesmo? O candidato está escolhido. Podem falar de vice, de programa, receber sugestões. Todavia, se os demais partidos, hipoteticamente, não recebessem bem a opção tomada pelo PT, o que se faria? Reunia o partido e dizia: “Temos de escolher outro”? “Vamos fazer outro encontro, eleger outros delegados”? O PT já definiu e quem quiser que vá atrás.

Em 2022, a mesma situação ocorreu com o PDT. O partido dizia que iria primeiro escolher internamente e depois negociar com os aliados. O mais votado foi Roberto Cláudio. Entre os aliados, a maioria não acatou. O que o partido haveria de fazer? Voltar e escolher outro? Outra, no caso? Não foi assim, o PT rompeu, levou consigo várias siglas e deixou para trás o PDT implodido.

O experimento político no poder do Ceará tem características bastante peculiares. As estruturas partidárias, organizadas nacionalmente, não costumam ter soluções para esse tipo de arranjo.
As coisas até funcionam quando há um líder forte e inconteste para centralizar as decisões. Era assim com Cid Gomes. Ele mesmo escutava quem tinha de ouvir e encaminhava a questão. Era o próprio processo decisório. Em 2022, afastou-se da decisão porque o irmão, Ciro Gomes, queria outra coisa e a situação degringolou.No PT, Camilo não tem o mesmo papel. O partido funciona de jeito diferente.

O prato já está pronto e aos importantes aliados resta pouco o que opinar. Quem tem mais influência é Cid Gomes. Ele fez uma confusão danada para manter a aliança e já vinha reclamando de o PT pleitear também a Prefeitura. Veremos o que ele achará da situação encaminhada pelo PT.

Mesquinharia

O debate sobre os recentes e graves episódios da segurança pública é triste exemplo de exploração política. Não parece haver preocupação com o problema em si, mas em lucrar politicamente — reduzir o prejuízo, ao menos. A situação é muito complexa, mas tratada com um simplismo que expõe mesquinharia do ponto de vista do interesse público, mais que outra coisa.

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