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O extremo agora é o comum
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O extremo agora é o comum

As pessoas renegam as evidências mesmo quando estas esfregam a cara delas na lama
Tipo Opinião
RUAS alagadas e imóveis tomados pela água em Porto Alegre (Foto: Carlos Fabal / AFP)
Foto: Carlos Fabal / AFP RUAS alagadas e imóveis tomados pela água em Porto Alegre

Em meio à tragédia no Rio Grande do Sul, houve a óbvia referência às mudanças climáticas. Nos comentários, alguns argumentam que chuva de grandes proporções já havia atingido a região em 1941. Já havia aquecimento global naquele tempo, questionavam. O negacionismo tem esse poder. As pessoas renegam as evidências mesmo quando estas esfregam a cara delas na lama.

Não se trata apenas de aquecimento global, mas de mudanças mais amplas e profundas. Existe o aumento da temperatura média do planeta, com efeitos catastróficos pelo mundo. Mas as manifestações são diversas, inclusive com muito frio em algumas regiões. Quando as ondas de frio ocorrem, logo aparece a ignorância, a má-fé ou o combo para indagar: “Cadê o aquecimento”.

De volta à chuva de 1941, já ultrapassada pelo fenômeno de agora. Quando se fala de mudanças climáticas, não se trata de coisas que nunca ocorreram. Já havia chuva antes, já havia ciclone, furacão, nevasca, seca. O que se trata agora são de fenômenos mais intensos e mais recorrentes.

Conforme dados da Agência Pública com base em dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, no ano passado houve no Rio Grande do Sul 231 ocorrências de chuvas intensas, 80 enxurradas, 52 situações de granizo, 34 inundações, 29 vendavais, 5 alagamentos e 1 tornado.

Houve tragédias climáticas em junho, setembro e novembro. Em junho, um ciclone extratropical, que deixou 16 mortos. Em setembro, outro ciclone extratropical matou 54 pessoas, no que foi, até aquele momento, o maior desastre natural da história do Rio Grande do Sul. Em novembro, cinco pessoas morreram devido a ocorrências relacionadas a chuvas intensas.

Nos meses de junho, julho, agosto e setembro, houve um ciclone por mês no Estado.

Não é evidente que há algo diferente acontecendo no planeta?

Enquanto o Rio Grande do Sul padece com chuvas, onda de calor matou dezenas na Ásia, em países como Bangladesh, Filipinas, Malásia, Nepal e Tailândia. Não muito longe das terras gaúchas, o Pantanal vive a perspectiva de mais um ano de seca intensa.

Os fenômenos extremos são cada vez menos localizados. Ocorrem em cada vez mais lugares, com intensidade e frequência maiores.

Líderes mundiais se reuniram em conferências e mais conferências internacionais nas quais muito se falou, dados e mais dados foram apresentados, relatórios e mais relatórios foram produzidos. E muito pouco, quase nada, foi feito. O mundo paga o preço e vai pagar cada vez mais. E tem gente que seguirá achando que tudo é coincidência, catastrofismo e conversa de comunista.

Filmes-catástrofe hollywoodianos sempre apresentam pessoas que renegam o óbvio frente às evidências. Parece maniqueísta e inverossímil. O Brasil mostra que a situação não apenas é realista como é difícil fazer caricatura do negacionismo.

Consenso científico

No começo do ano, elucidativa reportagem do projeto Comprova tratou das mudanças climáticas e apontou que o fato de elas serem causadas pela ação humana é, sim, consenso científico. Esse consenso é formado quando há uma esmagadora maioria de estudos que fundamentam uma tese. O fato de haver uma ou outra pesquisa em direção contrária, vozes isoladas que pensam diferente, não é suficiente para invalidar o — sim — consenso. Mas, cria-se a impressão de uma divisão na comunidade científica que na verdade não existe. O que faz é confundir. E tem muita gente confusa por aí.

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