Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Lula não tem sido um anti-Bolsonaro. Nos piores momentos, mal comparando, soa como um "Bolsonaro de esquerda"
Foto: AURÉLIO ALVES
Presidente Lula
Há duas correntes sobre qual deve ser a postura do presidente Lula (PT) ao se contrapor ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Uma corrente é a favor da “frente ampla”. Não apenas receber o apoio do maior número possível de forças, isso todos os lulistas querem. Mas, fazer um governo conciliador, de fortalecimento do que a esquerda costumava chamar de “instituições burguesas”, com acenos ao centro, ao mercado, aos conservadores, posições moderadas, evitar polêmicas. Um governo mais com cara de Geraldo Alckmin (PSB) do que de Lula. Definitivamente essa corrente está levando a pior em relação à segunda.
O outro entendimento é o de que o presidente deve radicalizar as posições de esquerda. Essa interpretação é a de que o PT se deu mal na Lava Jato, no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula porque foi bonzinho demais, moderado demais. Teria de partir para o enfrentamento.
Por essa leitura, Lula e Dilma ainda mais erraram ao escolher ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pouco alinhados ideologicamente com eles. O que Lula faz? Coloca o advogado pessoal, Cristiano Zanin, e o ex-ministro da Justiça, Flávio Dino. A escolha de Paulo Pimenta (PT) para a autoridade federal no Rio Grande do Sul vai nessa linha. Lula pegou um perfil muito ligado a ele, e alguém de postura beligerante. Seria uma indicação, no lado oposto do espectro ideológico, alinhada com o que Bolsonaro faria. Não era a cara do ex-presidente indicar, sei lá, um general Augusto Heleno para uma função dessas? Lula fez isso pela esquerda.
Entendo que Lula tem muito a perder ao responder ao bolsonarismo com métodos bolsonaristas na esquerda. Se Lula se porta como um “Bolsonaro de esquerda” — mal comparando, mal comparando — afasta setores que votaram menos a favor dele e muito mais contra o ex-presidente. No lugar de um Bolsonaro com sinal trocado, entendo que o presidente tem mais a ganhar sendo um anti-Bolsonaro. Isso representaria o caminho da conciliação. Longe de fazer tudo que julga ser necessário, seria o caminho de reduzir a temperatura política, atenuar arestas, evitar enfrentamentos. Não é a opção do governo até aqui.
As condições políticas
O problema para Lula nessa postura agressiva reside na própria base. Falta apoio político para ele adotar as políticas que pretende. Basta ver as derrotas já sofridas no Congresso Nacional. O presidente não tem conseguido evitar o avanço em questões que são pontos de honra para os progressistas. Passou o marco temporal para demarcação de terras indígenas, regras para licenciamento ambiental foram afrouxadas e atribuições do Ministério do Meio Ambiente e da pasta dos Povos Indígenas foram esvaziadas. Essas últimas foram particularmente emblemáticas, porque não se permitiu ao governo nem mesmo definir a própria organização.
Em abril, o ex-ministro José Dirceu deu o choque de realidade na esquerda: “Lula montou um governo que não é de centro-esquerda, é um governo de centro-direita. Eu falo isso e todo mundo fica indignado dentro do PT”. Ele acrescentou: “Essa é a exigência do momento histórico e político que nós vivemos”.
Na semana seguinte, em Fortaleza, Dirceu se corrigiu: “Esses dias eu falei que nós éramos um governo de centro-direita, mas a verdade é que nós somos um governo de esquerda apoiado pela centro-esquerda, mas com uma coalizão parlamentar em que parte da direita participa. Que é o Republicanos e o PP. E nós fizemos grandes avanços", disse ao O POVO. O fato é que, sem essa coalizão conservadora, o governo não aprova projetos. E essas siglas não embarcam na pauta progressista.
Cobradores de impostos
O prefeito José Sarto (PDT) e o vice Élcio Batista (PSDB) rebatem a promessa do deputado e pré-candidato a prefeito Evandro Leitão (PT) de acabar com a taxa do lixo. A dupla de gestores do Município, em sintonia, enfatiza que Evandro é funcionário da Secretaria da Fazenda — e, portanto, “coletor de impostos”.
Não sei é se o pessoal da Secretaria de Finanças — os “coletores de impostos” municipais — gostou da referência.
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