Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Os jogos de poder locais têm a capacidade de produzir situações surpreendentes. Repercutem bastante as imagens de Ciro Gomes (PDT) ao lado de Carmelo Neto (PL) na convenção que confirmou a candidatura à reeleição do prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos). “Adesão ao bolsonarismo”, dizem adversários.
Para mim, mais surpreendente ainda é ver Ciro ao lado do prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (União Brasil), ao lançar a candidatura de Dr. Aluízio (União Brasil), a prefeito de Crato. Políticos têm muitos adversários, mas esses eram inimigos mesmo. Em 2010, protagonizaram uma das mais agressivas trocas de insultos que já vi na política. Num debate, houve até uma arenga física, com direito a pisão no pé e puxão no nariz. Coisa bem adulta.
Lembrei-me do que dizia Alexis de Tocqueville: "Na política, os ódios comuns são as bases das alianças". Poucas coisas mais verdadeiras. Coalizões políticas são formadas muito mais contra um adversário em comum do que em função das afinidades ideológicas.
Ciro manifestou o apoio, apesar de o partido dele apoiar a candidatura no PT em Crato. Caso raro de acordo entre os dois partidos nos maiores municípios do Ceará. Ciro não abriu exceção e não quis conversa.
No caso, da parte de Roberto Pessoa nem é propriamente um ódio em comum. Ele era opositor ferrenho de Cid Gomes (PSB). Seguiu assim no governo Camilo Santana (PT), de mesmo DNA. Mas, com Elmano de Freitas (PT) governador. Roberto tratou de aderir.
Mencionei Tocqueville, mas o cumprimento entre Ciro e Roberto me lembrou de outra frase, esta de Nelson Rodrigues: “Nada mais doce, nada mais terno, do que um ex-inimigo”.
Ciro Gomes e os bolsonaristas
O comentário durante o primeiro fim de semana de convenções foi: Ciro Gomes abraçou o bolsonarismo? É um exagero. Como comentou o colega Guálter George no podcast Jogo Político nesta segunda-feira, 22, as circunstâncias locais, sobretudo, explicam a aliança. E nem é para apoiar candidato do PL. Em Crato, é do União Brasil, que tem um punhado de ministérios no governo Lula (PT). Em Juazeiro do Norte, o candidato é do Podemos. Inclusive, já teve flerte com o PT. Em 2022, Glêdson apoiou Santana, hoje adversário, a deputado estadual.
O PT mesmo, em Aracati, apoia Caetano Neto (Republicanos), apontado como bolsonarista, ou ex. Em Ipueiras, o PL local tentou apoiar a candidatura petista. Presidente estadual, Carmelo dissolveu a comissão provisória e descartou a chance de aliança.
Porém, é fato que, ao menos no Ceará, Ciro Gomes colocou o PT, e Camilo, como principais adversários, acima do bolsonarismo e de Bolsonaro.
Aliados lembram as críticas de Ciro a Bolsonaro. Verdade, mas hoje não é o principal inimigo para ele. Recordam que ele é autor da ação que tornou Bolsonaro inelegível. Verdade. Mas, atos passados não justificam nem avalizam ações futuras. A trajetória é parte da história, mas o presente também é. Responde-se por ambos. Caminhos não são lineares.
Wagner longe
Em Juazeiro do Norte, a presença de Capitão Wagner (União Brasil) chegou a ser aguardada no palanque de Glêdson. Isso não ocorreu. Seria outro marco. O ex-deputado e Ciro são também adversários os mais ferrenhos. Mas, Wagner não apareceu. Ele já dissera ao O POVO, meses antes, que não iria aparecer, por estar dedicado à campanha em Fortaleza.
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