Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: AndrésC/Pixabay
MISTURA de religião e política é perigoso para uma e para outra
A separação entre religião e política é um marco divisor entre as práticas antigas e as contemporâneas. Desde o século XIX, essa demarcação é instituída, para o bem tanto das questões da fé quanto do poder temporal. Mas, nunca foi absoluta. De vez em quando, há recrudescimento. A fé exerce poderosa influência na vida das pessoas. Mesmo assim, nunca como nas últimas décadas vi políticos tão influentes fazerem uso tão ostensivo da religião. Quando Lula (PT) foi eleito pela primeira vez, em 2002, aliou-se ao PL, que então era o partido da Igreja Universal. Mas, o discurso religioso não era tão presente quanto tem sido desde 2018.
Em Fortaleza, o ingrediente religioso tem presença forte na eleição para prefeito. No sábado, chamou-me atenção a fala de Lúcio Alcântara na convenção de Capitão Wagner (União Brasil). Lúcio está na política há mais de 50 anos. Nunca o tinha ouvido falar de religião no palanque. Sim, ele é homem de fé. Mas não me lembro de vê-lo associá-la à questão eleitoral.
"Eu pergunto, quem é que tá brigando aí todo dia, quem é que tá guerreando aí todo dia? Vocês já viram o Wagner insultar alguém? Ofender alguém? Porque ele é o prefeito da paz, é um homem pacífico. Só fala em unir, só fala em fazer o bem. Só fala em construir. Atacado, ofendido, ele reage como deve reagir o bom cristão. Com o perdão, deixando que cada um siga o seu caminho", disse Lúcio, que ainda falou mais em tom religioso.
“Não basta ter a fé no Wagner. É preciso guardar também no seu coração a nossa fé. Porque Cristo, Deus, são um só e é em torno dele que nós vamos estar reunidos, essa família 44”, disse, sobre o número do partido.
Eduardo Girão (Novo) é, de todos os candidatos, aquele que tem atuação mais relacionada à espiritualidade, muito antes da política. Com ele, a ordem dos fatores até se inverte. Promoveu mobilizações, teatro e cinema sobre a temática. E leva isso com muita ênfase na política. Na convenção que o lançou, no sábado, falou que a humanidade é assolada por uma “guerra espiritual”.
Evandro Leitão (PT) encerrou o discurso na convenção dizendo que aquele talvez fosse o dia de maior emoção na vida dele e que aquele momento aumentava a responsabilidade que tem. E acrescentou: “Não tenho medo de responsabilidade. Sabe por quê? Porque Deus me preparou”.
O prefeito José Sarto (PDT) é evangélico, mas, ao longo da trajetória política, nunca foi de fazer alusões a isso. Na administração, criou uma coordenadoria de articulação com instituições religiosas.
Política e fé
A religiosidade é uma dimensão importante da sociabilidade. As pessoas, inclusive, os políticos, têm suas crenças. É um direito expressá-la. Porém, trata-se, fundamentalmente, de questão individual de cada um, que deve ser respeitada. Do ponto de vista das políticas públicas, o papel é garantir que as pessoas tenham liberdade e segurança para expressar suas crenças. Não é papel estatal promover os valores de determinado credo, sob risco de opressão dos demais. Mesmo as religiões mais difundidas sabem o que é a experiência de ser minoritária em algum lugar do mundo, e ser alvo de perseguição.
Na maioria dos casos, político que fala muito em religião não busca propagar sua crença, mas sim tirar proveito e abocanhar votos. Deus está vendo.
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