André Fernandes mostra ideias; se são boas é outra coisa
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
André Fernandes mostra ideias; se são boas é outra coisa
A campanha de André traz uma notícia boa e outra ruim
André Fernandes (PL) faz uma campanha surpreendente para prefeito de Fortaleza. O marqueteiro é Pablo Nobel, que fez a campanha de Javier Milei na Argentina. Um marketing bastante diferente e que se mostrou eficaz. Apresenta um Fernandes diferente, que não se atrela a Jair Bolsonaro (PL), ao contrário. Traz questões polêmicas, mas de forma repaginada.
Em debates e entrevistas, demonstra ter se preparado bastante para o confronto. Leva informações sobre adversários e tem respostas afiadas, mais do que costuma ser usual para candidatos majoritários de primeira viagem. Quando entra em questões urbanas, tem lacunas de conhecimento. Quando, no debate, chama dois candidatos de inexpressivos, faz o que a rigor é uma crítica política, mas é também pouco respeitosa. Talvez o máximo de vislumbre, na campanha até aqui, do velho André que se conhece na política.
O candidato se preparou para a campanha e procura ser competitivo. Está conseguindo. O caminho que percorre é inteligente. Não se vincula ao desgastado Bolsonaro, que traz muitos votos e mais rejeição ainda. O eleitor bolsonarista, em grande parte, sabe que ele é o candidato do ex-presidente. Para ganhar, precisará de outros.
Em sabatina no O POVO na segunda-feira, 9, Fernandes deu boa e pertinente resposta sobre a mudança de perfil. Como parlamentar, explicou, ele representava uma parcela do eleitorado. Ao buscar ser prefeito, tem de falar à cidade como todo. tem razão, embora a trajetória pregressa vá fechar portas pela frente.
A campanha de André traz uma notícia boa e outra ruim. A boa é que surpreende ao ser focada em propostas sobre a cidade. E não são propostas genéricas nem platitudes. Trata de forma específica, que permite ao eleitor julgar se concorda ou não, se quer ou não apoiar. São questões polêmicas, inclusive, o que tem o mérito de permitir ao eleitor avaliar e decidir se quer ou não.
A notícia ruim são, na minha opinião, as propostas em si.
Más ideias
O fato de trazer ideias para a discussão é positivo. Não esperava que ele adotasse essa linha de campanha. Mas, os planos em si me parecem equivocados. Atendem, sem dúvida, interesses imediatos de certos grupos. Devem dar voto. Mas, não creio que farão bem para a cidade.
Uma ideia posta é de acabar com a Zona Azul. Pode parecer ótimo. Onde se pagaria para estacionar será possível parar. Todavia, a principal motivação da Zona Azul não é — ou não deve ser — arrecadação. A intenção é a rotatividade do estacionamento. Fernandes, após lançar a proposta, e provavelmente ouvir críticas, já disse em debate que quer acabar a Zona Azul, mas manter rotatividade. Não ouvi como ele pretende fazer isso.
Zona Azul existe em áreas de prestação de comércio e serviços. Tem intenção de desestimular que alguém estacione o dia todo num local destinado a atender clientes e frequentadores, que vão e vêm. (Pelo mesmo motivo, cadeiras em praças de alimentação de shoppings e afins são pouco confortáveis, para o sujeito comer logo e ir embora. Adolescentes nem sempre se importam.) Uma alternativa seria talvez dar uma franquia de tempo na Zona Azul. Agora por meio digital, a primeira hora podia não ser cobrada, por exemplo. Seria um incentivo e tanto à rotatividade.
Outra ideia do candidato do PL é uma volta ao passado. Acabar com a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis). Os fiscais voltariam às Regionais, como era até antes da gestão Roberto Cláudio (PDT). Ele disse que a Agefis não irá atuar para fechar barracas e restaurantes.
Bem, há regras urbanas que precisam ser cumpridas. A Agefis fiscaliza, por exemplo, os pontos de lixo, descarte de esgoto irregular, paredões de som, que promovem poluição sonora. Barracas de praia e restaurantes autuados, coitadinhos, muitas vezes estão sem alvará de funcionamento, sem licença sanitária e ambiental. O enfraquecimento e a pulverização da fiscalização vai contra os estabelecimentos que trabalham direito, estão dentro da lei e cumprem as obrigações. Também é contra os consumidores.
Bom mesmo é para os maus comerciantes, que não funcionam em condições adequadas e colocam em perigo os próprios clientes. O discurso policialesco de respeitar a lei etc não costuma valer para todos.
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