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Só quem dá jeito é o eleitor
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Só quem dá jeito é o eleitor

A política antiestablishment, antissistema, tem sido bem-sucedida em demolir referenciais da sociedade, tanto quando ganha a eleição quanto ao perder
Tipo Opinião
MOMENTO da agressão de José Luiz Datena contra Pablo Marçal, ambos candidatos a prefeito de São Paulo (Foto: Reprodução / TV Cultura)
Foto: Reprodução / TV Cultura MOMENTO da agressão de José Luiz Datena contra Pablo Marçal, ambos candidatos a prefeito de São Paulo

A semana começou com o vexame de um debate eleitoral com cadeiras pregadas ao chão para os candidatos não arremessarem a mobília uns contra os outros. E terminou com outro no qual a Polícia revistou o estúdio antes de os candidatos se encontrarem. Foi a pedido da própria emissora, o SBT, no que foi tratado como procedimento de praxe. Pode ter sido um pouco de marketing também. Não dá para dizer que não há motivos para apreensão de quem organiza um encontro entre os candidatos.
Os escolhidos pelas maiores forças políticas do Brasil para disputarem a maior Prefeitura do País, a mais importante e de maior orçamento, e se mostram incapazes de produzir um espetáculo que não seja constrangedor. É muito pobre, muito baixo.

A política antiestablishment, antissistema, tem sido bem-sucedida em demolir referenciais da sociedade, tanto quando ganha a eleição quanto ao perder. Pablo Marçal (PRTB) é o novo protótipo. Jair Bolsonaro (PL) já era personagem carcomido ao se lançar pré-candidato a presidente, no fim de 2014. Mas convenceu uma multidão de eleitores, em 2018, de que era o novo. Marçal expõe o envelhecimento da estratégia de Bolsonaro se vender como novidade e como diferente.

(Em Fortaleza, o candidato apoiado pelo bolsonarismo em 2020 e 2022, Capitão Wagner, muda de estratégia e postura para não ser ultrapassado por André Fernandes, bolsonarista raiz, que aparece como renovação enquanto Wagner soa antiquado para o eleitorado conservador nas ideias, mas ansioso pela novidade da vez.)

Há sinais de que Marçal possa estar esbarrando em limites e encontrando dificuldade para crescer. Porém, ele já provocou mudanças profundas e, ao menos no primeiro turno, é o assunto da eleição paulistana e, também, o principal fato das eleições municipais no Brasil. A que ponto chegamos.

A falência intelectual dos debates em São Paulo passa muito pela postura de Marçal, não apenas provocativa, ofensiva, desrespeitosa, mas mesmo aviltante. Os candidatos tentaram responder das mais diversas formas. As mais diversas mesmo. Obviamente que a agressão de domingo não é uma maneira politicamente legítima de reagir a qualquer manifestação feita num debate.

Muito se discute sobre adequação das regras para evitar o tumulto. O fato é que os debates no Brasil já são muito engessados, em modelos criados por pressão da própria assessoria dos candidatos, que não querem expor os candidatos. Com isso, surgiram protocolos rígidos demais, que atrapalham o aprofundamento. Todo esse rigor se mostrou de uma inutilidade atroz frente a um Marçal.

Formatos ainda mais rigorosos, limites mais claros do que pode ser dito, punições mais enfáticas que o direito de resposta diante das ofensas: alguma dessas medidas seria capaz de parar Marçais e congêneres?

Duvido muito. Só vejo uma forma de os candidatos pararem de agir feito adolescentes birrentos, malcriados, provocadores, desqualificados. Se perceberem que o eleitor não tolera isso. Que não é essa a postura que espera de candidatos e governantes.

Impactos possíveis

Quando Ciro Gomes proferiu um punhado de ofensas em 2002, as frases foram muito difundidas e ele despencou nas pesquisas. Mas, se os cortes rendem engajamento e este, intenções de voto, os candidatos apostarão mais e mais nesse caminho. Não importa se forem banidos de debates, se terão horas de direito de resposta contra si. Se o sujeito perceber que aquilo é politicamente produtivo, ele vai fazer.

Mas, se notar que pega mal e causa perda de votos, ah, eles vão parar rapidinho. Creio que esses modelos têm impacto inicial, mas acabam cansando o público. No fim das contas, por mais que se mexa em regras e instituições — e há medidas necessárias — existem coisas na política que só mudam com o eleitor. São as mudanças mais importantes.

Ao perceber que parou de crescer, Marçal mudou de máscara no debate desta sexta-feira. Agora é equilibrado e moderado. Pediu desculpas e reconheceu encenação após cadeirada. Ou o golpe mexeu em algum parafuso ou ele percebeu que a postura anterior não o levaria mais a lugar algum.

Foto do Érico Firmo

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