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A mentira como instrumento de poder
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A mentira como instrumento de poder

Eugênio Bucci cita Hannah Arendt: "Para o líder autoritário, não interessa que o povo acredite nele. Interessa muito mais que o povo não acredite em mais ninguém"
Tipo Opinião
EUGÊNIO Bucci reflete sobre o interesse na desinformação (Foto: PAULO PINTO/AE)
Foto: PAULO PINTO/AE EUGÊNIO Bucci reflete sobre o interesse na desinformação

Há muitas formas de tentar interferir de modo indevido na vontade do eleitor: a violência, a ameaça, a proibição de fazer campanha, a oferta de vantagens, a desinformação. Nessa terça-feira, 24, tive a satisfação de participar de debate sobre desafios da cobertura jornalística nas eleições municipais em tempo de desinformação. Promovido pelo Observatório da Imprensa e pelo Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, teve a participação de Tai Nalon, diretora-executiva do Aos Fatos, que foi repórter de política da Folha de S. Paulo, e Eugenio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), com mediação de Denize Bacoccina, editora do Observatório da Imprensa. De muita coisa interessante que ouvi, destaco reflexão do professor Bucci.

“A desinformação não é um enunciado, não é um relato, não é um conteúdo, não é uma mensagem. Ela também não é uma sequência de notícias ou de posts. A desinformação se tornou um ambiente”. E explicou a consequência desse processo. “É um ambiente no qual a malha epistêmica, me perdoem a expressão um pouco esdrúxula, perde credibilidade. As fontes de saber perdem credibilidade. A ciência, a universidade. A medicina em particular. A Justiça. A imprensa. Aquelas instituições para as quais a gente perguntava as coisas para saber o que se passava de fato entram numa corrosão e vai se instaurando um meio em que ninguém acredita em mais ninguém”.

Como esse processos torna instrumento político? “Isso Hannah Arendt anteviu. Disse que para o líder autoritário não interessa que o povo acredite nele. Interessa muito mais que o povo não acredite em mais ninguém”.

É esse o produto do ambiente de desinformação, destaca o professor. “Isso ocorreu de alguma forma ou em alguns espaços ou em alguma escala. Mais ainda, é um tempo em que a verdade importa menos ou não importa nada”.

Ele dá uma mostra, cujos exemplos são inúmeros, de como o fenômeno pode se expressar no cotidiano da política. “Se você prova que o fulano mentiu, e nós estamos cheios de situações em que um suposto líder mentiu, o efeito disso é muito pequeno”, afirma. “Se é verdade ou se é mentira, é como se a sociedade se descolasse disso”.

Sempre me causou espanto não apenas a defesa, como o ativismo dos insignificantes, mas barulhentos, heteróclitos que defendem que a Terra seria plana. Aonde querem chegar, eu me perguntava. Bucci oferece uma boa resposta.

Como combater

Eugênio Bucci abordou também o que pode ser feito diante dessa realidade. “Não é com informação que a gente combate a desinformação. Assim como não é mais com o conhecimento que a gente combate a ignorância. Tem um problema aí”, ele disse. “Não basta informação”.

O professor prosseguiu: “É necessário trabalho na construção da credibilidade das instituições. Ou na restauração, mas eu digo construção porque as instituições precisam se repensar”.

Ele exemplifica: “Uma das vítimas da desinformação como ambiente é a credibilidade da Justiça, do Poder Judiciário, no Brasil e vários outros países”.

E acrescenta: “Se a Justiça ela mesma não desperta para esse problema e não toma atitudes que preservem o seu lugar de promover o equilíbrio aos conflitos, devolver a paz às tensões, equacionar demandas judiciais, nós vamos viver uma progressão desse problema”.

O debate está disponível no Youtube.

Pesquisas decisivas

Pesquisa AtlasIntel foi divulgada nessa terça-feira, 24, e mostrou estabilidade de André Fernandes (PL), oscilação positiva de Evandro Leitão (PT), oscilação negativa de Capitão Wagner (União Brasil) e melhora de José Sarto (PDT), no limite da margem de erro. Um movimento, se confirmado, importante na eleição e que pode sinalizar uma fase final de 1º turno de arrepiar. Nesta quarta-feira, saem Datafolha e Quaest. Comento amanhã.

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