Momento delicado e decisivo na disputa entre André e Evandro
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Dentro de dois dias, os votos deixarão de ser intenção. Não haverá mais flutuação, subida ou queda nas pesquisas. A decisão será tomada para os próximos quatro anos. A disputa está equilibradíssima, apontam as pesquisas. Não tem nenhum candidato tranquilo, com folga. Por isso, ninguém quer correr risco.
O horário eleitoral chega ao fim e haverá o último debate. Ocasião final que cada candidato terá para se dirigir ao grande público. Nas ocasiões anteriores, André Fernandes (PL) mostrou mais desenvoltura. Evandro Leitão (PT) teve progressos, mas se atrapalhou em alguns momentos. Fernandes se comunica melhor com o público, é mais eloquente e carismático. Queria mais debates do que Evandro permitiu que houvesse.
Nos momentos finais, a campanha de André se viu em situação de desconforto causado pelo adversário — ao reprisar vídeo com fala do candidato sobre feminicídio — e por aliados. A vice, Alcyvania Pinheiro (PL), ao falar de “cartilha” para aborto caseiro. O vereador Inspetor Alberto (PL), com vídeo sobre Evandro “preparar o caixão”. Situações que obrigaram a campanha a se explicar e colocaram André na defensiva. E, pior para o candidato, fez lembrar o estilo polêmico do qual, ao longo da campanha, ele tanto buscou e vinha conseguindo manter afastado.
Pesquisas põem direita para baixo?
Outro dia, no podcast Jogo Político, uma pessoa que nos assistia, cujo nome me escapa, comentou que, ao ler pesquisas, bastava colocar mais dez pontos para o candidato da direita e se teria o resultado. É comum outras pessoas dizerem coisas do tipo. Será isso mesmo?
Há exemplos a favor dessa tese. Em Fortaleza, em 2020, a votação de Capitão Wagner (União Brasil) no 2º turno contra José Sarto (PDT) foi bem maior do que indicavam os institutos. Na disputa de 2022 entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o candidato do PL teve diferença para o petista menor do que aparecia nas intenções de voto. Há situações mundo afora que também
Porém, também há exemplos contrários, bem próximos, inclusive. Em 2022, as pesquisas subestimaram os índices de Elmano de Freitas (PT), que acabou eleito no 1º turno. Na Bahia, indicavam vantagem de ACM Neto (União Brasil) sobre Jerônimo Rodrigues (PT), que quase foi eleito no 1º turno e foi vitorioso no 2º turno. Nos dois casos nordestinos, a exceção foi a Atlas, que apontou a tendência correta na Bahia e, no Ceará, indicou a possibilidade, na margem de erro, da eleição de Elmano no 1º turno, o que acabou ocorrendo.
Existem explicações para divergências entre pesquisas e resultados em anos recentes. Balanços preliminares de 2024 sugerem que, ainda que haja erros — sempre haverá — os índices em geral tiveram maior grau de precisão em comparação com 2022 e 2020. Uma justificativa tem relação com o Censo de 2022. Até a eleição passada, institutos ainda faziam pesquisas com base nas segmentações demográficas do Censo de 2010. Percentuais de homens, mulheres, faixas de idade e outros dados do perfil populacional, que são considerados pelos institutos no momento de escolher quem responderá às pesquisas, estavam desatualizado, mais do que o normal. O Censo deveria ter ocorrido em 2000, foi adiado por causa da pandemia e sofreu novo adiamento em 2021, por falta de dinheiro.
Outro motivo é a hostilidade de algumas pessoas a institutos de pesquisa. Isso tem ocorrido mais na direita nos últimos anos, e tem alguns institutos como alvos preferenciais. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) impulsionava essa rejeição. Com isso, havia desde recusa a responder, gente que mentia deliberadamente até ameaças contra pesquisadores, o que tornava arriscado frequentar alguns locais. Com Bolsonaro em segundo plano este ano, a situação foi atenuada, mas pode recrudescer.
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