Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Tem gente que, numa brincadeira com gundo sério, reivindica votar para presidente dos Estados Unidos. Se afeta minha vida, mexe no preço desde o pão até o carro, por que não posso participar da decisão?
“Acontece nos EUA, acontece no Brasil”, foi o tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em 31 de maio de 2020. A frase tem um exagero como traço do servilismo, mas as forças políticas mais relevantes do Brasil estão cada vez mais atreladas ao processo eleitoral nos Estados Unidos, e não apenas lá. Com relação à Casa Branca, houve convergências de situações, sim.
Donald Trump se elegeu em 2016 e foi a inspiração para a eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018. A forma de fazer campanha de Trump foi uma inspiração para Bolsonaro. O principal estrategista de Trump, Steve Bannon — que, aliás, deixou a prisão na semana passada —, estabeleceu laços com os Bolsonaro. Em 2020 Trump perdeu a reeleição. Em 2022 foi a vez de Bolsonaro. Ambos muito minados pela calamitosa gestão da pandemia de Covid-19.
As coisas parecem bem sintonizadas, mas fica nesses casos mesmo. E houve muitas circunstâncias locais a explicar os resultados. Em comum, em 2018, o novo modo de fazer campanha — com todos os usos bem discutíveis, no mínimo — e, em 2020, o fator pandemia. Até 2026, pode ser que haja similaridades entre a eleição de cá e de lá que, por ora, não estão evidenciadas.
Tem gente que, numa brincadeira com gundo sério, reivindica votar para presidente dos Estados Unidos. Se afeta minha vida, mexe no preço desde o pão até o carro, por que não posso participar da decisão?
Porém, parece-me equivocado quando forças políticas no Brasil, com perspectivas reais de poder, atrelam-se a um lado ou outro. Pior ainda quando tais forças são governo. Jair Bolsonaro (PL) declarou apoio a Trump. O presidente Lula manifestou-se a favor de Kamala Harris. Não apenas lá. Nas eleições da Argentina, também os agrupamentos mais relevantes da política brasileira se posicionaram.
Diplomacia, todavia, exige pragmatismo. Não é para atender aos interesses de ninguém mais além do Brasil. Uma vez que estejam no poder, precisará ter relações com quem quer que seja, assim como ter independência para divergir e confrontar governos estrangeiros quando há conflitos de interesse. Alguém acha que Bolsonaro, na posição de subserviência em que se colocava frente a Trump, teria autonomia para isso?
Não interessa ao Brasil ter um governo a reboque de país nenhum. Assim como não interessa ser inimigo, principalmente da nação mais rica e poderosa do planeta.
O retorno de André Fernandes
O deputado federal André Fernandes (PL) inicia um périplo por bairros para agradecer à votação a prefeito de Fortaleza. Foi ao Conjunto Ceará e passará por Vila Velha e José Walter. Nos três, ele teve mais votos que o eleito, Evandro Leitão (PT). André fez uma campanha diferente e acerta no pós-campanha. É inteligente retornar. Muito melhor que outros que perderam eleição recentemente e enfiaram a cabeça no buraco. Mas, não basta voltar agora para agradecer. Mais importante é, como deputado, retornar para ouvir os problemas e levar soluções.
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