Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
De todas as teses, análises estratégicas e discussões sobre perfis dos candidatos, talvez a melhor explicação para as vitórias conservadoras seja a conquista por esse campo da maioria na sociedade. Desde as eleições municipais no Brasil até a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos ou da extrema direita na Áustria, há fortalecimento do campo. Não de forma homogênea ou em todo lugar. Um dos fenômenos eleitorais do Brasil é João Campos, do PSB. No Ceará, ninguém hoje chega perto da força de Camilo Santana (PT). Fortaleza elegeu o petista Evandro Leitão, mesmo que tenha sido por pouco. Mas, não tem sido a regra.
Para se ater ao Brasil, há uma grande parcela da sociedade que é de fato conservadora. Não significa que vote necessariamente na direita, mas tem valores do conservadorismo. Inclusive por isso, a retórica violenta e virulenta de Jair Bolsonaro (PL), Trump e similares talvez afaste esse conservador raiz. Aliás, basta percorrer o interior do Ceará e de qualquer estado nordestino para saber que há um eleitorado tradicionalista, carola, reativo a questões sexuais e de gênero que não remontem à Idade Média. Ao cruzar o mapa de onde estão essas pessoas com os resultados eleitorais, constata-se que esse sertanejo conservador vota maciçamente no PT e em Lula.
O fato é que Lula, pelo perfil, a retórica — e as políticas sociais — consegue dialogar e atrair um eleitor que é conservador e não deixa de ser conservador por votar nele. O presidente consegue isso de uma forma que o PT raramente é capaz.
Essa é uma camada do conservadorismo. Há várias gradações, até aquele mais arraigado, militante e partidário. Verdade que se trata de conservadorismo flex. Há o conservador brasileiro ultrarreligioso que bebe bastante — depois dirige e não quer ser multado. Aliás, um conservadorismo que defende o rigor da lei, mas só para os outros. Para si e para os dele, quer anistia, abolir punições e acabar com órgão de fiscalização.
Muito conservador brasileiro gosta de aplicar dinheiro em bets. Defende a família, mas trai a esposa. E vai a bordel com dinheiro público para comemorar golpe de Estado.
Com todas essas singularidades, a direita, ainda assim, tem sido mais capaz de arregimentar adeptos pelo Brasil. Vitórias da esquerda, como de Lula em 2022 e de Evandro em 2024, contam não apenas com o voto de esquerda, mas com muito do voto contra a direita — que enfrenta também uma rejeição enorme. A capacidade de mobilizar uma “frente ampla” tem sido a maneira mais eficaz de contraposição.
Interpretações
Na eleição dos Estados Unidos, uma boa síntese, válida para o Brasil, foi feita pelo empresário Sean Johnson: “Votei nela (Kamala Harris). Acho que ele (Trump) é um cara mau. Mas se você perde o Senado, a Câmara, o colégio eleitoral E o voto popular, e você acha que a lição é que metade do país é racista, sexista, homofóbica, transfóbica e estúpida… lição errada”.
Cada vez mais perto
Os resultados eleitorais em Fortaleza estão cada vez mais próximos. Em 2016, Capitão Wagner (União Brasil) perdeu para Roberto Cláudio (PDT) por 90.396 votos. Em 2020, Wagner perdeu para José Sarto (PDT) por menos da metade da diferença da eleição anterior: 43.760 votos. Este ano, a diferença caiu a menos de um quarto do que era quatro anos antes: 10.838 votos.
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