Concentra poder quem pode — e acha que não precisa dos outros
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Todo grupo político tem ambição de concentrar poder. É do jogo. E todos criticam quem concentra, quando não são eles a estar por cima. A concentração, porém, é ruim para a política, essa curiosa atividade na qual a finalidade maior de seus atores pode se tornar um mal se levada a extremos. É natural que o PT queira concentrar poder e é mais normal ainda que os outros partidos achem ruim. E ainda mais previsível que os aliados sejam os mais incomodados. Nada do que ocorre na (ex?)-aliança governista do Ceará é algo fora do habitual.
Quem está certo e quem está errado? Como eu falei, há ambições que são do jogo. Não sou eu que vou dizer o que partidos devem querer, deixar de querer ou aceitar. O PT está guloso, tem força para isso e é compreensível.
Cid Gomes (PSB), por sua vez, fez um rebuliço para viabilizar a aliança com Elmano. Deu carta de anuência que permitiu a Evandro Leitão (PT) ser candidato a prefeito, implodiu a base de prefeitos e deputados do PDT e com isso, do prefeito José Sarto. Antes disso, brigou com a família e não se envolveu na campanha, num movimento que abriu caminho para Elmano de Freitas ser governador. Se eu fosse ele, esperaria retribuição. Mas, o partido não teve o candidato a prefeito — como ele reivindicou —, não teve vice, não terá o comando da Assembleia Legislativa e, pelo que se comenta, talvez não seja recompensado nem com a vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Não dá para dizer que Cid não evidenciou a insatisfação com os vários episódios. O Palácio só não percebeu se preferiu virar o rosto para o outro lado.
Cid construiu um projeto de poder com base nas alianças. Não é o caminho seguido por Elmano. Age sozinho quem acredita não precisar dos outros.
Quais os termos do que aconteceu?
Pelo que foi falado publicamente até agora, a descrição do que foi desencadeado na sexta-feira é:
Não se considera que Cid rompeu. Ele deixou de se considerar parte do grupo, mas não se espera que vá para a oposição. Não deve bater de frente com o governo.
Cid não pediu a deputados e prefeitos, conforme os relatos, que eles o sigam e partam para a oposição ao governo.
Fim de uma era?
Cid fez o que fez para retomar a aliança com o PT após a eleição de 2022 por se considerar, nas palavras dele, “patrono” dessa composição política. A parceria teve início em Sobral, em 1996, e era inusitada no Brasil. Representou, na época, a aliança entre PSDB e PT. Em 2006, a aliança se tornou estadual e conquistou o Governo do Estado. É o projeto político da vida dele. Que ele próprio decida encerrar esse projeto, da forma como concebido, é muito significativo.
Os aliados evitam falar do assunto. De um deles, recebi como resposta apenas a foto que ilustra a coluna. Foi feita na Câmara Municipal de Sobral em 1996. É o marco inaugural da aliança. Na foto estão José Guimarães, Cid Gomes, José Dirceu, Edilson Aragão e Veveu Arruda. A foto é de 28 anos atrás.
O grupo perdeu este ano a Prefeitura de Sobral. Pouco mais de um mês depois, aparentemente a aliança ruiu. É como se o coração desse laboratório político sempre tenha estado em Sobral, e não sobreviva fora da cidade.
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