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Quando poder é demais?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Quando poder é demais?

Grupos políticos querem mesmo ganhar tudo que conseguirem. Só não disputam quando as condições não favorecem. O que não significa que a concentração não seja negativa. E perigosa
Tipo Opinião
EVANDRO, Elmano e Cid Gomes (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA EVANDRO, Elmano e Cid Gomes

A concentração de poder nas mãos do PT é grande. O nível de sintonia entre os entes talvez seja sem precedentes. Mas, todos os outros grupos hegemônicos no Ceará pós-redemocratização avançaram tanto quanto conseguiram sobre todos os principais postos. E todos pagaram preço por isso.

Já escrevi que o alinhamento entre Capital, Estado e Governo Federal só ocorreu por um breve intervalo desde a redemocratização. Mas, a situação de agora é diferente. Da vez anterior, o PMDB tinha Ciro Gomes prefeito, Tasso Jereissati governador e José Sarney presidente. Tasso havia sido um dos governadores eleitos no impulso do Plano Cruzado. Mas, em 1989, ano em que se deu a conjunção astral no Ceará, governador e presidente já não se entendiam tanto. Na eleição presidencial daquele ano, os cearenses foram alguns dos dissidentes que não apoiaram o candidato do partido, Ulysses Guimarães. Estavam com Mário Covas, do PSDB, partido ao qual se filiaram na segunda quinzena de 1990, encerrando o breve e raro alinhamento.

Claro, na ditadura militar, a Arena tinha o presidente, o governador e o prefeito da Capital. No início da reabertura, o PDS concentrou esse poder, Mas, era uma ditadura, né. Nenhum dos três era eleito pelo voto direto.

Principal cacique cearense, Camilo Santana, hoje ocupa um dos cargos mais importantes e de maior visibilidade do governo Lula (PT). Em Fortaleza, o ministro, o governador Elmano de Freritas e o prefeito eleito Evandro Leitão estão afinadíssimos.

O PSDB de Tasso chegou a ter um poder estadual que o PT de Camilo ainda passa longe de possuir. De 1995 a 2002, o partido tinha os três senadores cearenses. Elegeu governador, vice-governador e presidente da Assembleia Legislativa. O presidente da República era Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 2000, a legenda elegeu 83 dos 184 prefeitos. Era mais de 45% do total. Para ter a dimensão do tamanho do poderio, naquele mesmo ano, o PFL do Maranhão, controlado pela família Sarney, elegeu 33,6% dos prefeitos. Na Bahia, o PFL de Antonio Carlos Magalhães, o ACM, elegeu 30%.

O PT elegeu 47 prefeitos este ano. O maior número é do PSB, com 65. Porém, na Capital, na época de Tasso, o comandante político era Juraci Magalhães.

O PT de Camilo não tem, por enquanto, o poder no Interior do PSDB de Tasso. Mas, faltava a fatia grande, recheada e apetitosa da Capital. Não por falta de tentativa. O partido disputou e perdeu. Havia um bastião emblemático contra o chamado “grupo do Cambeba”.

Com Cid Gomes, nos primeiros seis anos de mandato a Prefeitura de Fortaleza era do PT. Nos primeiros quatro, a Assembleia era do PMDB, ainda com “P”. A partir de 2011, porém, o PSB — onde Cid ficou até 2013 e ao qual retornou este ano — passou a comandar o Legislativo. Em 2012, elegeu o prefeito da Capital. E tinha o governador.

Cid argumentava que não tinha a hegemonia como intenção. Que pretendia apoiar o PT, mas discordava da pessoa escolhida. Até deu opções. Os petistas podem contra-argumentar que queriam eleger Izolda Cela governadora, pelo PDT, mas o partido não deixou.

Além disso, Cid não teve, quando governador, presidente da República do partido dele. Mas, só porque Ciro não conseguiu.

(A pessoa de cuja escolha Cid discordava em 2012 era Elmano.)

Armadilhas do poder demais

Vamos combinar, grupos políticos querem mesmo ganhar tudo que conseguirem. A ambição é vencer todas as eleições. Só não lançam candidatos quando as condições não favorecem. E o objetivo é sempre vencer. Quem está fora do poder fala que a concentração é ruim, mas faria o mesmo se tivesse chance. O que não significa que estejam errados sobre a hegemonia ser negativa. E perigosa.

Tasso concentrou o maior poder no segundo e no terceiro mandatos. Cid, entre 2013 e 2014. Para ambos, foi o período de maior desgaste, de longe.

Foto do Érico Firmo

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