Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O recuo na candidatura de Fernando Santana (PT) a presidente da Assembleia Legislativa contornou o que aliados do senador Cid Gomes (PSB) entenderam como rompimento dele com o governo Elmano de Freitas (PT). Mas, ficou evidenciada a enorme trapalhada na articulação política governista. Uma das maiores de que me lembro de já ter visto envolvendo um governador. A impressão transmitida foi de uma operação amadora que esbarrou num profissional da política. Ficam sequelas importantes a serem cuidadas para a base aliada. Evidenciou-se, afinal, uma fragilidade antes insuspeitas dos laços que unem Cid à aliança.
Problema contornável
O que mais me chama atenção é o quanto era uma crise evitável. Inacreditável que Elmano tenha tentado fazer de Fernando Santana (PT) o presidente da Assembleia sem combinar com os principais aliados. Insatisfação com a concentração de poder pelo PT Cid Gomes já vinha demonstrando, de declarações públicas até o distanciamento da campanha quase inteira. Talvez o rompimento fosse extremo demais, mas algum tipo de reação era previsível. Toda a discussão que se tornou pública poderia ter sido contornada se alguém tivesse antes testado a água. Se Elmano não quis fazer a consulta antes para não ter de ouvir um não, acabou sendo pior.
Erro e insistência
Não me recordo de o governador, qualquer um, estar envolvido diretamente num movimento político que deu tão errado. Houve articulações fracassadas, mas raramente envolvendo os próprios aliados, em algo tão dentro da governança palaciana. Quando houve rompimentos, tinham a ver com problemas mais difíceis de contornar, sobre as ambições na base de apoio.
Por exemplo, quando Domingos Filho bateu de frente com os governistas em disputas que envolveram Assembleia e o hoje extinto Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), quando Eunício Oliveira (MDB) rompeu com Cid Gomes em 2014 porque queria concorrer a governador, ou quando Cid rompeu com Luizianne Lins (PT) em 2012 por não concordar com a candidatura de Elmano a prefeito de Fortaleza. Todos foram problemas muito mais intrincados, e nenhum nasceu dentro do Palácio.
A saída Romeu Aldigueri (PDT), para atender tanto a Cid quanto a Elmano, era previsível e era possível ter chegado a ela antes de toda a confusão. Que o governador desejasse emplacar um escolhido dele era natural. Que tenha tentado fazer isso sem nem ao menos meia dúzia de consultas aos aliados mais relevantes é primário.
Ao longo da última semana, aliados de Elmano descartaram o recuo de Santana e trataram a candidatura a presidente da Assembleia como irreversível. Depois da desistência confirmada, a insistência que houve antes deixou a situação pior.
Qual seria o tamanho do estrago?
Por que Fernando Santana retirou a candidatura, o PT recuou e Elmano aceitou o acordo para Aldigueri ser candidato a presidente da Assembleia? Pelo potencial de crise causado por um rompimento de Cid? Tenho dúvidas. A capacidade de o senador arrastar ao seu lado prefeitos e deputados é bem discutível. Para Cid não ser candidato a governador em 2026? Não creio em um raciocínio tão retilíneo. Há muito chão pela frente e não creio que houvesse um cenário para o embate Elmano contra Cid. Apostaria mais na tentativa de evitar uma defecção importante e simbólica na base aliada. E uma deferência com quem inaugurou o atual ciclo.
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