Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O PT tem governo federal, Estado e Município. Para o morador de Fortaleza, e mais 46 municípios pelo Ceará, qualquer problema de ordem pública será “culpa do PT”. Ou pelo menos responsabilidade resolver. Em entrevista dias antes de estourar a crise com o senador Cid Gomes (PSB), o governador Elmano de Freitas demonstrou consciência da responsabilidade de comprovar a tese de campanha — mostrar, na vida das pessoas, que o alinhamento é o melhor.
O potencial de desgastes é muito grande. Haverá problemas e crises — não apenas na política, como a que foi contornada na semana passada. Numa grande cidade, como Fortaleza, a chance de o partido ficar chamuscado é significativa. Diria que maior que a perspectiva de sair com popularidade em alta. A população é exigente e crítica. As demandas, muitas.
Outros riscos para quem tem hegemonia, ainda mais por tempo prolongado, são a arrogância e os vícios de quem pode quase tudo.
Quando poder demais fez mal
O exemplo mais atual para demonstrar que poder demais pode ser danoso é Sobral. O grupo Ferreira Gomes chegou ao poder em 1997 e lá permaneceu nos últimos 28 anos. Nos grandes municípios cearenses, isso não tem paralelo em tempos democráticos, o mesmo grupo tanto tempo no poder. Este ano, a oposição venceu com Oscar Rodrigues (União Brasil) — outra família poderosa. Apesar de terem recorrido à ex-governadora Izolda Cela (PSB), personagem de peso e qualificada. A derrota se deveu à força de um grupo que já vinha em ascensão. Mas, também, ao desgaste de tanto tempo no poder.
Os exemplos se multiplicam. Tasso Jereissati (PSDB) e seu grupo controlaram a política estadual por 20 anos. No período final, estava já profundamente desgastado, sobretudo na Capital e municípios maiores. Uma vez derrotado e fora do poder, o PSDB definhou. E então, inclusive, fez-se avaliações mais ponderadas do que o ciclo político deixou.
Quando Tasso comandava o Estado, o poder em Fortaleza estava nas mãos de Juraci Magalhães, que, após uma década e meia, deixou o poder de forma melancólica
Roberto Cláudio (PDT) é outro exemplo. O grupo comandou a prefeitura por três mandatos — se o prefeito José Sarto (PDT) tivesse sido reeleito, iria para inéditos quatro mandatos completos consecutivos do mesmo grupo. Mas, é evidente que, nos últimos quatro anos, o desgaste se acumulou. A impopularidade da gestão cobrou o preço político.
Armadilha para o camilismo
Grandes cidades, com opinião pública vigorosa, costumam ser críticas e exigentes com políticos. Quanto mais poder, mais se cobra. Fortaleza tem esse histórico. Se Elmano e o prefeito eleito Evandro Leitão (PT) não mostrarem muito serviço, rápido, sentido na vida das pessoas, o potencial de corrosão da popularidade é grande e veloz.
A equação reunida pelo governismo tem grande poder, mas difícil de ser administrado. Já escrevi que a última vez em que Capital, Estado e Governo Federal estiveram nas mãos do mesmo grupo foi em 1989. Faz 35 anos e o mundo era outro. O Brasil saia de uma ditadura e a Internet nem existia no País.
Os gestores petistas precisarão acertar muito — mais do que têm feito até aqui — para que a empreitada acumuladora não se torne um tiro no pé. A Cidade não costuma gostar de quem acumula poder. O alvo principal do possível desgaste pode ser quem nem está na chefia dos governos — o ministro Camilo Santana (PT), efetivamente o político mais poderoso do Ceará.
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