Problema é muito mais grave que a festa ficar menor
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Problema é muito mais grave que a festa ficar menor
Réveillon foi anunciado a 12 dias da eleição. Teve atração anunciada 2 dias antes. E agora, como ficam os artistas contratados? E os turistas que programaram viagem para ver os artistas? Como fica a reputação de eventos em Fortaleza depois de 66% do Réveillon ser cancelado?
O problema não é a festa de Réveillon em Fortaleza ter um dia. É assim na maioria dos lugares. E, com os muitos problemas no fim de mandato na Prefeitura, crise nos principais equipamentos de saúde, interrupção de serviços e contratos, atrasos em pagamentos e lixo acumulado nas ruas, é difícil mesmo justificar a comemoração estendida. Com que roupa, parafraseando Noel Rosa, uma gestão da maneira como termina seria capaz de sustentar três dias de Réveillon?
O prefeito eleito Evandro Leitão (PT) reclama de falta de informações na transição. Pelo que até agora se sabe, seria irresponsabilidade fazer um Réveillon de três dias na situação em que a administração está.
O erro é terem sido anunciados três dias de Réveillon sem condições para isso. O prefeito disse que os patrocínios conseguidos são insuficientes para os três dias. Ora, pois que tivessem anunciado o que era viável. É muito difícil separar a redução da festa do contexto da política e da administração municipal. A situação cria vários problemas. Artistas haviam sido anunciados e não virão mais. Nomes como Pabllo Vittar, Diogo Nogueira e Marisa Monte. As datas são disputadíssimas. A saber se não haverá multa por quebra de contrato.
Outro problema, grande, é com os turistas. Coisa rara de acontecer, o anúncio antecipado da programação de Réveillon foi um trunfo para atrair visitantes. Agora, coloque-se no lugar de quem marcou viagem para assistir a três e terá um dia de festa. De quem de repente antecipou passagem para ir ao show de um artista que não virá mais. Nesse época, viajar a uma cidade como Fortaleza fica ainda mais caro que o usual. Obviamente, nem se compara com a gravidade do problema de quem vai a um hospital e não recebe tratamento por falta de medicamento. Porém, é um prejuízo para a economia e para o turismo de Fortaleza, que Sarto deixa para os prefeitos que vierem depois. É um rombo na credibilidade.
Os anúncios de atrações para eventos municipais feitos de agora em diante ficarão sobre a interrogação de uma divulgação que foi feita e depois cancelada. A credibilidade também afeta a relação com produtores e artistas. Um efeito dominó, que a gestão municipal parece tratar como coisa normal e algo muito normal.
O mandato do prefeito José Sarto (PDT) caminha para um fim melancólico, assim como o desfecho do ciclo político iniciado por Roberto Cláudio (PDT).
Efeito eleitoral
As atrações começaram a ser anunciadas no dia 24 de setembro. Faltavam 12 dias para a eleição em que o prefeito concorria a um novo mandato — ficou em terceiro lugar e nem foi ao segundo turno. Os anúncios terminaram em 4 de outubro, dois dias antes da eleição. Dois!
O impacto eleitoral, ou ao menos a tentativa dele, é evidente. E agora se descobre que o que foi anunciado na véspera da eleição não irá mais acontecer porque a Prefeitura não conseguiu viabilizar. Mais grave destacar que, depois da derrota na eleição, Sarto chegou a confirmar os três dias de festa. Era antes do segundo turno, e da vitória de Evandro.
Ora, se não sabia se teria condições que não divulgasse. Ainda mais tornar público na véspera da eleição, de forma eleitoreira. Uma irresponsabilidade.
Pode-se gostar ou não do prefeito Sarto, mas esse tipo de atitude não é compatível com o histórico de seriedade da qual nunca tive motivo para duvidar.
Como a eleição já passou, nem sei se haveria algum mecanismo para punir, mas é o tipo de medida que mereceria investigação e punição. Há elementos de um estelionato com finalidade eleitoreira. Coisa muito pequena.
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