Governo Elmano tem desafio de não ser o pior da história na segurança
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A segurança pública no Ceará precisa melhorar para ser considerada ruim. O que se vive há mais de uma década é uma tragédia social e urbana. O desafio do governador Elmano de Freitas (PT) é enorme, mas ele tem como ponto de partida uma missão até medíocre a cumprir: o mínimo que o atual governo precisa é não ser o pior da história em segurança.
Pode parecer um objetivo um tanto rebaixado, e é mesmo. Porém, é algo que os quatro últimos gestores a exercer mandatos inteiros não conseguiram. O Ceará vem de recordes sucessivos. Cada governador deixa o cargo tendo sido o pior da história na questão da violência.
O posto atual é de Camilo Santana (PT), com muita folga. Os oito anos de mandato, completados nos últimos nove meses por Izolda Cela (PSB), foram o período mais violento da história do Estado — e um dos piores na história de qualquer estado no Brasil. O ponto de partida de Elmano é conseguir não ser pior que isso.
Pior que o primeiro mandato de Camilo, Elmano não será, a não ser que a coisa desande de vez — três batidas na madeira. O segundo mandato de Camilo/Izolda também foi bastante negativo. Elmano está quase no fim da metade do mandato. A tendência está parecida aos quatro anos anteriores.
Governadores se superam em ser o pior
Com um ano e 11 meses de mandato, o governo Elmano de Freitas soma 5.953 crimes violentos letais intencionais, os chamados CVLI. São mortes violentas intencionais: homicídios dolosos, feminicídios, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios. No segundo mandato de Camilo mais o período de Izolda, o número nos quatro anos foi de 12.565. Se mantiver o mesmo ritmo, o governo Elmano deve terminar parecido com o segundo de Camilo/Izolda. Tende a melhorar pouca coisa.
O governo Camilo, no segundo mandato (2019-2022), teve um mérito na segurança pública. Foi muito ruim, começou com onda de ataques de facções criminosas, seguiu-se com motim de policiais militares e em seguida, com a pandemia mais o acordo para encerrar a paralisação, abandonou algumas das poucas iniciativas positivas que vinham desde o governo Cid Gomes (PSB) — o programa de metas na segurança, que agora se pretende retomar. Porém, neste século, foi o único mandato em que houve redução do número de mortes violentas intencionais em relação aos quatro anos anteriores.
Essa é a parte boa. A parte ruim é todo o resto, inclusive o fato de que o mandato anterior era do próprio Camilo. E o primeiro mandato do hoje ministro da Educação foi o pior da história em relação à violência.
De 2015 a 2018, foram 17.077 pessoas assassinadas no Ceará. Um descalabro sem precedentes e sem paralelo. Os números dos primeiros quatro anos puxam Camilo para o topo da lista como governador durante o período mais trágico da história da segurança do Ceará. Em oito anos, 29.642 cearenses foram assassinados. Isso é mais gente que a população de 119 municípios do Estado, conforme o Censo 2022.
Antes de Camilo, o pior governador para a segurança havia sido o antecessor e então padrinho político Cid Gomes. O primeiro mandato do hoje senador não foi bom nessa área e registrou 9.017 assassinatos. Mas, o segundo mandato foi terrível, com 15.370 CVLIs e o maior crescimento da história. Na soma de oito anos: 24.387 mortes violentas intencionais.
Com todo — enorme — problema, um mérito do governo Cid foi a organização dos dados. A partir de 2009, as informações citadas são da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Antes disso, as estatísticas são menos confiáveis. Antes disso, uso aqui dados do Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
Antes de Cid, o período mais violento, em um mandato, foi de Lúcio Alcântara (2003-2006), com 6.636 mortes violentas intencionais. Antes, o recorde de violência era do terceiro mandato de Tasso Jereissati, completado por Beni Veras (1999-2002), com 5.071 assassinatos.
Camilo, após a reeleição, teve o primeiro mandato a não ser pior na segurança que o anterior. Que era dele próprio. Elmano, espera-se, não conseguirá bater o recorde negativo do primeiro mandato do antecessor. Mas, tem como primeira e mais básica tarefa terminar os quatro anos melhor também do que foram os últimos quatro de Camilo e Izolda.
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