Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Assessoria Sargento Reginauro
REPRESENTANTES da oposição querem se unir
O encontro de Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil) com a bancada de oposição na Assembleia Legislativa foi casual e não combinado, mas na política poucas coisas acontecem por acaso. Existem conversas para tentar transformar em bloco a aliança improvisada para o segundo turno em Fortaleza. A oportunidade da coincidência de agendas na quarta-feira serviu ao propósito de criar uma agenda e mandar um recado: apesar do poderio governista, há forças do outro lado em articulação. Para a próxima semana, fala-se em promover um novo encontro, desta vez programado. E com a presença do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) e de André Fernandes (PL) — este último o mais relevante eleitoralmente.
O discurso de Roberto Cláudio foi o mais relevante, por conter o maior teor de novidade. Não por ser absolutamente novo. Mas, Wagner e os bolsonaristas já nasceram ou estão imbricados no antipetismo há mais de década. Com Roberto, isso é mais recente e nunca esteve tão explícito.
A aliança com o bolsonarismo no segundo turno de 2024 soava como um bote salva-vidas depois do naufrágio da candidatura de José Sarto (PDT) à reeleição, um movimento estratégico e último recurso. Ao final da campanha, o aceno a André depois da eleição de Evandro Leitão (PT) indicava um propósito de seguir a mesma rota.
O discurso de Wagner e Roberto Cláudio, adversários ao longo de 12 anos, é de estarem juntos para se contrapor ao governismo estadual. Até 2024, estavam em fileiras distintas. Wagner disputava com André Fernandes o comando do campo conservador, na esperança de se aproveitar da disputa entre PT e PDT.
O Capitão tinha vantagem até ser atropelado no primeiro turno de 2024. Com a hegemonia quase absoluta do PT de Camilo Santana, Wagner e Roberto percebem que precisam estar juntos do bolsonarismo para terem chance de ao menos almejar ser opção de poder. O bolsonarismo os recebe de bom grado — ao menos enquanto não há uma fatura a ser cobrada.
O caminho que resta
Para Wagner este caminho é mais natural. Embora tenha sido aliado do PT em 2012 — contra Roberto Cláudio — ele era o líder conservador, foi duas vezes o candidato de Jair Bolsonaro (PL). Já Roberto Cláudio era, até 2022, parte de um consórcio de poder do qual o PT era parte importante, embora nunca ao lado dele próprio.
A aposta de Roberto Cláudio é de que o PT está fazendo água. O projeto está desgastado, perde popularidade. Na eleição, perdeu em grandes cidades. Onde venceu, perdeu na sede do município. De fato, o desempenho do PT é muito melhor nos pequenos e médios municípios. Nos grandes ele sofreu. Mas, com qual projeto de poder não foi assim? Ele pode perguntar a Tasso quando tomarem café semana que vem.
A análise de Roberto faz sentido — sempre. Mas, faltou o ingrediente de interpretar a situação do próprio grupo. A respeito do PT, disse que “não é por acaso que a popularidade se corrói”. Como aplica isso a José Sarto? Como explica o prefeito ter sido o único até hoje a não se reeleger, além de não eleger vereadores nem o irmão, os líderes ou os secretários? Como explica, em 2022, não ter vencido em uma zona eleitoral sequer no município no qual foi um bem avaliado prefeito?
Roberto Cláudio disse que o PT, que governa Fortaleza, o Ceará e o Brasil, está numa “espiral de decadência”. Se é assim, o PDT está num liquidificador de decadência, uma batedeira de derrocada, uma perfuratriz de declínio. Com todo respeito.
A análise de Roberto é consistente, mas, a uma semana da eleição de 2024, ele também tinha sólido raciocínio para falar das chances de Sarto ser reeleito.
Se a leitura dele sobre o ocaso do PT faz sentido ou não, o fato é que essa é a única hipótese que dá a ele alguma chance de protagonismo. Não dá para saber o quanto há de interpretação e o quanto de torcida. Para ele, é uma necessidade que as coisas ocorram como ele acha que irão transcorrer. Não lhe restou alternativa.
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