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Os efeitos da mexida de Lula
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Os efeitos da mexida de Lula

Saúde tem problemas, mas troca tem a ver mais com política. E terá efeitos também na articulação
Tipo Opinião
NÍSIA Trindade caminha para deixar governo (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil NÍSIA Trindade caminha para deixar governo

O saída de Nísia Trindade do Ministério da Saúde, dada como certa em Brasília, mexe numa das áreas mais sensíveis para a população, que costuma ser apontada como maior preocupação das pessoas. Há problemas vários na gestão. Pesquisas apontam que a avaliação é ruim — mas costuma ser sempre, nos vários níveis. Uma das principais consequências para a iminente queda da ministra é política. E os resultados efeitos também.

Nísia é alvo de pressão por causa de emendas parlamentares. A Saúde é o ministério que costuma receber maior volume de recursos destinados por deputados federais e senadores. Nísia é acusada de segurar a execução das obras com dinheiro das emendas, para fúria dos parlamentares. Pelo mesmo motivo do peso das emendas, a Saúde é cobiçada pelo centrão.

Mas, quem deve assumir é Alexandre Padilha, que foi o ministro do Mais Médicos, no governo Dilma Rousseff (PT). Atualmente ele é ministro das Relações Institucionais, que cuida da articulação política. Para esta vaga, o mais cotado hoje é o cearense José Guimarães (PT). O centrão também quer a pasta das Relações Institucionais. Mas, o que o centrão não quer?

A “oposição democrática” de Bolsonaro

Na primeira reação à denúncia da Procuradoria Geral da República sobre o plano de golpe, o ex-presidente Jair Bolsonaro chamou a si próprio de “líder da oposição democrática”. Nem ele acredita na própria bazófia. Bolsonaro defensor da liberdade é uma tentativa de reinvenção, em sintonia com a concepção conservadora de que o indivíduo deve ter autonomia para fazer o que bem quiser, sem ser responsabilizado. Muita gente conheceu Bolsonaro na década passada, quando ele preparava a candidatura presidencial. Talvez explique tanta gente ter acreditado quando ele se apresentou como “nova política” em 2018. O fato é que o ex-presidente, de lá para cá, deu seguidas provas do quão ambiciona ser um autocrata e do desrespeito pela democracia. Mas, ele já fazia política havia décadas. A história de Bolsonaro torna risível a pretensão de associar o nome dele à palavra democracia.

Bolsonaro se projetou na política como defensor corporativo dos militares. E desde sempre fez discurso em favor da ditadura militar, dos generais ditadores e dos torturadores. Ele fala muito contra ditaduras — de esquerda — pelo mundo. Mas é ardoroso defensor da ditadura brasileira. E, de regimes autoritários, absolutistas e até teocráticos de direita, ele também não tem queixa. Do regime saudita ganhou até presentes que podem complicá-lo ainda mais. Se é verdade que o PT defende ditaduras como a cubana, enquanto fala de democracia aqui, é muito bonito seu Jair ir contra autoritarismos na Nicarágua e na Venezuela, enquanto faz loas à ditadura que houve aqui mesmo.

O “líder democrático” de quermesse vive homenageando do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido como um dos mais brutais torturadores do regime. E não é para dizer que Ustra não torturou. Idolatra-o justamente por isso. O sadismo foi ao ponto de exaltar Ustra ao votar pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) — ela própria vítima de torturas. O coronel diz que cumpria ordens. Foi o argumento dos burocratas nazistas em Nuremberg.

Em 2021, Bolsonaro disse com todas as letras: “Se não tiver voto impresso, não vai ter eleição”. Esse é o grande democrata? O cara que não aceitava que a eleição seguinte ocorresse se fosse nos moldes da que o elegeu? Houve eleição porque não é ele quem decide isso e a democracia resiste, apesar de tudo.
Foi uma fala entre tantas que o ex-presidente fez para causar instabilidade na democracia brasileira. Ele e os seguidores só se importavam em manter o poder, danem-se as instituições — a garantia democrática.
Falo apenas do que é público e notório, sem nem entrar nas tramas subterrâneas agora denunciadas, e nas que nem vieram ainda à luz.

Foto do Érico Firmo

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