Ato esvaziado enfraquece Bolsonaro e chance de anistia
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Na questão dos números, o Monitor do Debate Público do Meio Digital, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em parceria com a ONG More in Common, fez 66 fotos de drones e usou inteligência artificial para analisar o número de presentes. Apontou 18 mil pessoas, com precisão de 72,9% e acurácia de 69,5% na identificação de indivíduos. O número em si é menos relevante que o fato de que o público caiu muito em relação a manifestações anteriores, pelo mesmo método. Em abril de 2024, eram 33 mil. Em setembro de 2022, 64 mil.
Já o instituto de pesquisas Datafolha estimou o público em 30 mil. Também foram usadas imagens aéreas, demarcação da área ocupada e avaliação da densidade média de pessoas e a dispersão no espaço.
A Polícia Militar, por sua vez, falou em público de 400 mil. Interessante que apoiadores do ex-presidente se apagaram a esse dado, embora a PM não tenha informado como chegou a ele. O nível de rigor importa menos que o fato de a informação agradar.
O mais relevante é a evidência de que o público foi bem menor que em outros momentos. Você, que eventualmente esteja zangada com o que eu escrevi acima, veja o que Bolsonaro mesmo disse: “A gente arrastava multidões pelo Brasil. Foi aqui, no 7 de Setembro, tinha mais gente do que agora”. A expectativa era de um milhão. Muita gente tem concluído que se trata de enfraquecimento do bolsonarismo. Pode ser, mas há outros aspectos.
A organização foi confusa. Começou-se a falar num ato “fora Lula”. Depois, a questão foi redirecionada para a anistia aos condenados do 8 de janeiro. O “fora Lula” teria apelo de mobilização certamente maior. A força contra algo tem mais potência, ainda mais nesse campo. Além disso, a anistia favorece o segmento mais radicalizado do bolsonarismo.
O campo conservador tem hoje maior capacidade de mobilização que qualquer força política, mas mas nem todos são bolsonaristas — embora votem no bolsonarismo contra o PT. Para além, nem todos os apoiadores concordam ou mesmo se sensibilizam com quem depredou a Praça dos Três Poderes.
Outro aspecto é que a pauta contra o Supremo Tribunal Federal (STF) está cansada, repetitiva. Sem falar que o bolsonarismo tinha evidentemente mais capacidade de arregimentar seguidores quando dispunha da máquina governamental. E essa mobilização é mais difícil tão longe da eleição. Como no futebol, é mais fácil levar torcedor na última rodada do que na primeira rodada do campeonato, mesmo que valham os mesmos três pontos.
Porém, nada disso significa que a capacidade de mobilização de Bolsonaro acabou. Ela já mostrou, entretanto, maior vigor. Para os fins políticos, foi uma derrota. A maior que o ex-presidente já teve em mobilizações do tipo.
Os números da PM
A Polícia Militar do Rio de Janeiro informava publicamente não fazer estimativa de público. Mas fez, e bem controversa. Segundo o jornalista Octavio Guedes, do Grupo Globo, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL) telefonou para o comandante da PM, coronel Menezes, e pediu que fosse divulgada a estimativa de 400 mil pessoas. Castro teria mencionado que o público seria de 50 mil. A se confirmar, seria um escândalo de manipulação da máquina para fim político. O governo do Rio nega a intervenção de Castro. Não explicou por que a Polícia passou a divulgar estimativa de público, algo que não fazia.
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