Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: AURÉLIO ALVES
VISITA anterior de Lula ao Ceará foi para comício de Evandro no 2º turno
Há expectativa de anúncios relevantes do presidente Lula para o Ceará e para Fortaleza na visita desta quarta-feira, 19. Mas, politicamente, neste momento, quem tem mais a ganhar com a viagem presidencial? Quem precisa mais dela? O cenário dessa visita é particularíssimo para Lula ao longo da trajetória. Desde 1989, ele sempre teve muita força no Ceará. De 2002 para cá, então, tornou-se o político mais popular entre o eleitorado do Estado.
A cada visita, políticos locais sempre buscaram tirar proveito da imagem do presidente. Porém, as pesquisas mostram que a popularidade do presidente enfrenta corrosão, principalmente nos segmentos que o sustentaram desde a chegada ao poder — os nordestinos e os mais pobres. Ele ainda tem mais aprovação que desaprovação nesses segmentos, mas a diferença caiu a ponto de não mais compensar a rejeição em outros recortes regionais e de renda.
Uma recuperação de Lula precisa começar por onde ele é mais forte. O Ceará pode ser um bom impulso. Fortaleza é a única capital governada pelo PT no Brasil. Desde que deixou a prisão, em novembro de 2019, hoje é a primeira vez que Lula visita uma capital governada pelo PT. Até porque, em 2016, o partido venceu apenas em Rio Branco (AC). Em 2020, em nenhuma capital. Do ponto de vista da imagem política, Lula talvez seja quem mais tem a se favorecer da visita desta quarta.
Ter Sarto de volta para fazer a própria defesa é relevante para o projeto do PDT. O ex-prefeito não foi bem na eleição e, no fim do mandato, piorou muito a própria situação. Os primeiros dois meses e meio de mandato de Evandro não ajudaram. Para pensar no futuro, em protagonismo político, o PDT não pode fingir que Sarto não existiu. Será fator de cobrança sobre o partido.
Quanto ao próprio ex-prefeito, o desgaste chegou ao ponto em que ele tem pouco a perder.
Sem falar que o ex-prefeito se porta como tem ainda pretensões eleitorais futuras.
Problemas são reais
O fato que Sarto precisa enfrentar é que houve problemas reais. O caso exemplar foi o IJF, o que a Prefeitura reconheceu na época é criou até uma “força-tarefa” para resolver. Faltou de remédio a comida. O ex-prefeito criticou falta de medicamentos nos postos — que continua — mas isso ocorria e se agravou no fim de 2024. Pagamentos a fornecedores atrasaram ou deixaram de ser feitos. Funcionários tiveram o fim de contrato antecipado. Até o Réveillon, anunciado nas vésperas da eleição, sofreu cortes. No meio disso tudo, o prefeito praticamente desapareceu. Ele está agora respondendo a coisas de que não falou nos dias finais de mandato.
O prefeito falou do aumento de arrecadação. Pegou com R$ 7,7 bilhões ao final de 2020 e entregou com mais de R$ 11 bilhões. Se contar receitas intraorçamentárias e operações de crédito, o valor foi de R$ 9 bilhões para R$ 14 bilhões. Porém, as despesas também subiram. A Prefeitura gastava R$ 8,6 bilhões, incluindo amortização de dívida. Foi para R$ 13,9 bilhões. Os números são dos relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal.
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