Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Lula mencionou que o papel, com PT na Presidência do Brasil, no Governo do Ceará e na Prefeitura de Fortaleza, eles têm de garantir que a população não se frustre com a escolha que fez. A tarefa é complexa
Foto: AURÉLIO ALVES
LULA abraça Evandro Leitão, entre Camilo Santana e Elmano de Freitas
Na quarta-feira, no novo Hospital Universitário do Ceará, o presidente Lula comentou o ineditismo da confluência entre prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e presidente da República serem do PT. Foi a primeira visita do presidente depois da posse de Evandro Leitão (PT) na Prefeitura de Fortaleza — portanto, depois que se confirmou o alinhamento estelar. Lula, Evandro, o governador Elmano de Freitas (PT) e o ministro Camilo Santana (PT). Na inauguração do hospital, os discursos de todos eles remeteram às parcerias, às possibilidades. Mas, Lula tratou também, sem meias palavras, da responsabilidade.
O presidente mencionou que o papel deles, agora, é fazer com que a população não se frustre com a escolha que fez. Lembrou que, em 2026, eles estarão pedindo ao eleitor para votar neles novamente. Se o alinhamento é inédito, a cobrança no Ceará ao PT será igualmente sem precedentes.
A responsabilidade é grande, porque para um morador de Fortaleza, por exemplo, todo problema de ordem pública é hoje responsabilidade do PT. Bater no PT, mais que nos governantes, é forma de potencializar o desgaste. Parte da oposição já fazia isso por natureza e outra aderiu a isso — notadamente Roberto Cláudio e José Sarto, ambos do PDT.
Até porque as vitórias não foram folgadas. Evandro Leitão, principalmente, teve 50,38% dos votos válidos contra 49,62% de André Fernandes (PL), diferença de 0,76 ponto percentual. No caso de Elmano, foi uma surpresa ele ter vencido no 1º turno. Teve 54% dos votos. Os adversários comandos, 46%. Foi uma grande vitória para quem largou atrás, foi inesperada. Mas não foi uma enorme margem.
Desafio para os petistas
Se o alinhamento político é inédito, mantê-lo por mais anos não é tarefa simples. No ano que vem, tanto Lula quanto Elmano podem tentar a reeleição. Claramente, a situação mais difícil é a do presidente. O cenário nacional é acirrado, as pesquisas mostram crescimento da reprovação, a direita bolsonarista tem nomes que são competitivos, mesmo com Jair Bolsonaro (PL) inelegível.
Quanto a Elmano, a história mostra que os governadores no Ceará tendem a ser reeleitos e a fazerem sucessores, sem que para isso precisem nem ser extraordinários. A oposição tenta se organizar, mas o governador é favorito, em princípio, para um novo mandato.
Já Evandro é assunto para daqui a três anos, mas Fortaleza não é uma cidade simples politicamente.
Quarta abençoada para os petistas
A visita de Lula (PT) a Fortaleza ocorreu no dia de São José, padroeiro do Ceará. Não falaram menções religiosas nos discursos. O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), agradeceu a Deus no começo da fala e pediu aplauso a São José. Pediu ainda que Deus abençoe os profissionais de saúde que trabalharão no hospital que estava sendo inaugurado. O governador Elmano de Freitas (PT) agradeceu a São José e disse que o hospital passará a funcionar com 100%, “porque nós temos Deus e nós temos Luiz Inácio Lula da Silva”.
Antes da visita a Fortaleza, Lula esteve no Rio Grande do Norte. Ele encerrou o discurso, entregou o microfone, o mestre de cerimônias anunciou o fim do evento para Lula viajar ao Ceará, mas o presidente viu sobre o palco o arcebispo emérito de Natal dom Jaime Vieira Rocha. Então, pegou o microfone de volta e pediu que o sacerdote conduzisse a oração do Pai Nosso. “Porque quando a gente é religioso de verdade, a gente não usa o nome de Deus em vão”, ele disse.
O segmento religioso é uma preocupação para o PT. Pelas pesquisas, a aprovação de Lula é enorme entre evangélicos e piorou entre católicos.
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