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Qual caminho o bolsonarismo tomará no banco dos réus?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Qual caminho o bolsonarismo tomará no banco dos réus?

A natureza do bolsonarismo sugere choro e ranger de dentes. Mas, é possivel algum pragmatismo em certa medida
Tipo Opinião
Bolsonaro e Tarcísio em ato pela anistia em Copacabana (Foto: MAURO PIMENTEL/AFP)
Foto: MAURO PIMENTEL/AFP Bolsonaro e Tarcísio em ato pela anistia em Copacabana

A projeção para o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e outros denunciados no Supremo Tribunal Federal (STF) é de que a denúncia seja aceita e os denunciados se tornem réus. Analistas esperam que haja unanimidade na 1ª turma. O recebimento é só o começo. O Brasil será sacudido por esse julgamento. Bolsonaro não aceitará a provável condenação sem causar o máximo de estrago que conseguir. Já avisou que será problema, ou tentará ser. O problema de quem cai atirando é não poder calibrar a pontaria. Sabe-se lá o que atingirá.

A natureza do bolsonarismo sugere choro e ranger de dentes. A tendência é de estrebuchar. Mas, o inesperado e enfático elogio às urnas do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), indica um caminho de conciliação. Tarcísio sempre buscou se apresentar como linha não-radical do bolsonarismo, um bolsonarista domesticado.

O bolsonarismo já demonstrou senso de sobrevivência. Exemplo foi a campanha de André Fernandes (PL) em Fortaleza, na qual Bolsonaro disse ter partido dele próprio o plano para ser escondido na campanha. É possivel algum pragmatismo em certa medida. De Bolsonaro e o entorno imediato, não creio em outra coisa senão estardalhaço e confronto. Mas, é possível que alguns sejam preservados para haver alternativa. Caso de Tarcísio.

Pilares demolidos

Alguns valores os pais se acostumaram a transmitir aos filhos. Há mais de cinco décadas, pelo menos desde o lançamento do Programa Nacional de Imunizações, as famílias têm a compreensão da importância da vacinação. As gerações que hoje são avós e bisavós testemunharam a queda da mortalidade. A quantidade de crianças que morriam, e também adultos acometidos por doenças hoje controladas. No Brasil, nunca vingou a corrente, com certa presença em Europa e Estados Unidos, que coloca as vacinas em dúvida. O Brasil é referência mundial em vacinação e em difusão da imunização. Os antivacina só se criaram por aqui quando entrou em campo a política — o pior dela, da forma mais nociva.

Educação foi outro valor que os pais se acostumaram a passar para os filhos. Mesmo aqueles sem acesso à instrução formal se esforçaram para propiciar aos filhos aquilo que eles não tiveram. A herança de quem não tem nada a deixar, e a mais importante.

Ensinar aos filhos a importância do estudo sempre foi um dos mais importantes valores transmitidos de geração a geração. Professores eram referências, alguém a quem os filhos deveriam respeitar e ouvir. Hoje, crianças são estimuladas a filmar aulas para denunciar educadores.

Tornou-se comum o discurso de que estudar não é importante, ler não é importante. De que cursar universidade é perda de tempo. Trata-se de espaço de “balbúrdia”, no dizer deum ex-ministro que caiu em desgraça com o bolsonarismo, mas não por isso. Para gerações e gerações, o acesso à educação foi, e ainda é, caminho para transformar vidas. Foi e é assim para muitas famílias.

Mas, para quem encontra meios de ascensão rápida no Youtube e no TikTok, a trajetória profissional deixa de ser pelo caminho da educação e deriva para virar influenciador.

Nessa segunda-feira, 24, um youtuber, suspenso da Universidade de Brasília (UnB), foi no primeiro dia de aulas para filmar e provocar. Foi enxotado pelos colegas de universidade. Ele foi suspenso depois de gravou aulas e expôs de forma descontextualizada, vazou dados pessoais de outros estudantes e incentivou seguidores a praticar invasões à UnB e agressões a estudantes.

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump pretende fechar o departamento federal de educação, responsável, entre muitas outras coisas, por financiar a educação nos lugares pobres, dar apoio a estudantes de baixa renda e promover programas para estudantes com deficiência. Para Trump, o Departamento de Educação “não está servindo para nada” e propaga “ideologias radicais”.

O neorreacionarismo em voga ataca coisas tão caras e preciosas quanto a prevenção de doenças, da forma mais eficaz que a ciência produziu, e a formação educacional. É um projeto que busca refundar a sociedade, em bases um tanto estranhas. Para isso, pretende demolir os pilares civilizatórios.

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