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A sinalização de Elmano contra a violência
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A sinalização de Elmano contra a violência

Elmano faz acenos ao eleitorado conservador, como antídoto. E acena à tropa. Não sei se convence a um ou outro. Também não sei se a postura ataca o problema da violência
Tipo Opinião
NA foto, o governador Elmano e o secretário da Segurança Pública, Roberto Sá (Foto: Fábio Lima/O POVO)
Foto: Fábio Lima/O POVO NA foto, o governador Elmano e o secretário da Segurança Pública, Roberto Sá

O governador Elmano de Freitas (PT) endurece o discurso sobre segurança pública, mais na forma que no conteúdo. Ele dialoga mais com os preconceitos e chavões conservadores sobre a atuação da esquerda na área. Adota alguns antídotos em relação àquilo pelo que o PT é criticado. Não sei se dará certo.
O marco do novo discurso foi a posse do secretário da Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Sá. “Nessa nova fase, bandido no Ceará será tratado como bandido”, afirmou Elmano, em 3 de junho do ano passado.

No fim de semana passado, Elmano disse: “Entre um policial ser vítima e bandidos tombarem, que eles levem sempre a pior”.

As duas falas não dizem grande coisa. Os bandidos serão tratados como bandidos. E antes eram tratados como o quê?

Sei que se fala muito contra direitos humanos, que se defende preso, que eles têm vida boa — a não ser quando se trata de alguém com determinada vinculação política e ideológica, nesse caso eles são vítimas de tratamentos desumanos. O fato é que a realidade do sistema prisional brasileiro é terrível, por vezes inaceitável.

Mas, ficou no ar a dúvida. Elmano é de um grupo político que governa o Ceará desde 2007. Até junho do ano passado, bandidos eram tratados como o quê?

Quanto à opção entre criminosos e policiais, parece-me uma obviedade. Sei que os policiais se sentem injustiçados, perseguidos pela Controladoria Geral de Disciplina (CGD). Acham que há muito rigor contra eles. Que se dá crédito demais a denúncias de criminosos. Que a imprensa é contra eles. E que, pelo receio de sofrerem punição, eles deixam de atirar quando deveriam e se expõem a risco.

Porém, eu nunca vi alguém dizer que o policial, sob risco de ser morto, não deve se defender, não deve reagir. Nunca vi alguém dizer que é preferível o policial morrer do que matar o criminoso.

Elmano faz acenos ao eleitorado conservador, como antídoto. E acena à tropa. Não sei se convence a um ou outro. Também não sei se a postura ataca o problema da violência.

Escalada das mortes

O discurso não é novidade. Depois da eleição de 2016, quando Capitão Wagner (União Brasil) foi ao segundo turno e teve 46,4% dos votos, contra 57,6% de Roberto Cláudio (PDT), que buscava a reeleição, o então governador Camilo Santana (PT) tomou decisão que teve ingredientes políticos. Colocou como secretário da Segurança Pública o delegado federal André Costa. Chegou com sinalizações à tropa e disse que criminosos teriam que escolher entre “Justiça ou cemitério”.

Muita gente foi para o cemitério. Na gestão André Costa, em 2018, houve o maior número de mortes por policiais na história: 221. Foi o segundo ano mais violento da história do Ceará, em número de homicídios. Só ficou atrás de 2017, quando André Costa chegou, e 5.133 pessoas foram assassinadas no Estado. Em 2019, ainda com ele, houve onda de ataques sem precedentes das facções criminosas. Em 2020, estourou o maior motim policial que o Ceará já conheceu. Nem a tropa o discurso violento convenceu.

Quando os números começaram a ser computados, em 2013, houve 41 pessoas mortas em ações policiais. Em 2014, foi para 54. Este ano, em janeiro e fevereiro, foram 33 mortos pela Polícia. Desde 2016, as mortes cometidas por policiais nunca ficaram abaixo de 100 por ano. Ano passado foram 189.

Não tenho como dizer se as mortes eram necessárias ou não. É possível que todas tenham sido. Mas, são muitas mortes. Não me parece que os policiais achem que não podem atirar. É preciso que tenham, sim, segurança para se defender, até para que consigam defender a sociedade. Elmano repetiu e enfatizou que depende a ação na legalidade, o que é tão correto como óbvio, mas é necessário que seja dito. Mas, quando o recado corre o risco de ser entendido soar como estímulo a matar, talvez ganhasse mais com o silêncio.

Foto do Érico Firmo

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