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China e as "zonas especiais do saber"
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Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia

China e as "zonas especiais do saber"

A China superou os EUA em produção de artigos científicos publicados e patentes registradas. Segundo o QS Ranking 2025, as Universidades de Pequim e Tsinghua estão entre as 20 melhores do mundo
Tipo Opinião
Um homem passa por retratos (da esquerda para a direita) do falecido presidente chinês Mao Zedong e ex-líderes chineses Deng Xiaoping, Jiang Zemin, Hu Jintao e o atual presidente Xi Jinping no Salão Memorial Revolucionário de Yan'an,  (Foto: JADE GAO / AFP)
Foto: JADE GAO / AFP Um homem passa por retratos (da esquerda para a direita) do falecido presidente chinês Mao Zedong e ex-líderes chineses Deng Xiaoping, Jiang Zemin, Hu Jintao e o atual presidente Xi Jinping no Salão Memorial Revolucionário de Yan'an,

Em 1975, Deng Xiaoping levou consigo funcionários de alto escalão dos setores da indústria, do transporte, da administração e da ciência para uma viagem de cinco dias à França. Ezra Vogel, em seu livro "Deng Xiaoping and the Transformation of China", cita o relato de Wang Quanguo, então chefe da Comissão de Planejamento do Estado da província de Guangdong, sobre as impressões dos membros da delegação chinesa naquela viagem: "Em pouco mais de um mês de inspeção, nossos olhos se abriram... Pensávamos que os países capitalistas eram atrasados e decadentes. Quando deixamos nosso país e demos uma olhada, percebemos que as coisas eram completamente diferentes".

Um choque de realidade que só perde para aquele que os chineses tiveram quando foram surpreendidos pela força militar das potências estrangeiras invadindo o seu território no século XIX.

Foram várias as "viagens de estudo" ao exterior por funcionários com cargos de responsabilidade na administração central. Aos poucos se deram conta do quanto a China estava ultrapassada e quanto poderia progredir.

Segundo Vogel, aqueles funcionários concluíram que "a China precisava se concentrar em aprender sobre ciência e tecnologia". Um desafio e tanto diante da situação do país naquela época. Afinal, a Revolução Cultural (1966-1976) tinha deixado a economia chinesa em ruínas, com suas indústrias paralisadas, ferrovias inutilizadas e as universidades esvaziadas.

O investimento massivo na ciência foi decisivo para virar o jogo. Na década de 1990, dois projetos do governo fortaleceram cerca de 115 universidades consideradas estratégicas e tornou 39 delas centros de referência global. Em 2015, já no governo de Xi Jinping, estes projetos foram substituídos por um programa abrangendo 147 universidades e faculdades selecionadas visando torná-las de primeira classe.

Os resultados estão aí: a China superou os EUA em produção de artigos científicos publicados e patentes registradas. Segundo o QS Ranking 2025, as Universidades de Pequim e Tsinghua estão entre as 20 melhores do mundo. A Universidade Fudan, a Jiao Tong de Shanghai e a Universidade Zhejiang também figuram entre as 100 melhores do mundo.

As universidades chinesas são como um equivalente das "zonas econômicas especiais" — só que voltadas para o saber. Diferentemente do que ocorreu no tempo de Wang Quanguo, agora são os ocidentais que, ao visitarem a China, estão abrindo os seus olhos e se dando conta do quanto os seus países estão ficando para trás. Uma das razões está evidente: estão abandonando as universidades e, assim, desincentivando os novos talentos a escolherem, se quiserem, o caminho da ciência.

 

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