
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
Evandro Menezes de Carvalho é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Cátedra Wutong da Univesidade de Língua e Cultura de Pequim. Nesta coluna, aborda geopolítica internacional com foco na Ásia
No exercício do seu primeiro mandato como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump propôs o "desacoplamento" econômico do seu país da China. O déficit dos Estados Unidos na balança comercial com os chineses superava, em 2018, os 400 bilhões de dólares. Era compreensível que o presidente americano quisesse rever os termos do comércio bilateral e aumentar tarifas sobre produtos chineses.
Contudo, as justificativas para sua política protecionista se ampliaram. Naquele período, a Huawei foi alvo de acusações de espionagem e considerada uma ameaça à segurança dos Estados Unidos, que passaram a pressionar países aliados a excluírem a companhia chinesa de suas redes 5G.
O governo Biden manteve a orientação protecionista do seu antecessor, mas com outra roupagem. Em vez de falar em "desacoplamento" (decoupling) da economia chinesa, ele enfatizou a "redução de riscos" (derisking) e se concentrou em setores como chips avançados e inteligência artificial.
A resposta do governo chinês foi gradual, começando com tarifas moderadas a setores específicos da economia americana até à retaliação total e equivalente ao recente tarifaço de Trump de 125% sobre a maioria dos produtos chineses.
A guerra comercial está instalada. Mas ela é apenas a face visível de uma disputa mais abrangente e profunda nos domínios das novas tecnologias, das finanças e das capacidades militares. Seja "decoupling" ou "derisking", para os chineses está claro que a política americana visa não apenas o reequilíbrio da balança comercial, mas um "de-China", isto é, o cancelamento da China no mercado global.
Mas será possível cancelar uma civilização com 5000 anos de história, um país com 1,4 bilhão de pessoas e que se tornou o maior parceiro comercial de mais de 140 países? Evidente que não. Basta olhar os fatos.
Apesar de toda a ofensiva americana, a China continuou crescendo 5% ao ano e bateu um recorde histórico no seu comércio com o mundo ao alcançar um superávit de um trilhão de dólares. Vale lembrar que a Huawei desenvolveu seu próprio sistema operacional como alternativa ao Android, o HarmonyOS, e a startup chinesa DeepSeek surpreendeu o mundo da inteligência artificial ao rivalizar com os competidores do Ocidente com custos drasticamente menores e desempenho altamente competitivo.
A política externa dos Estados Unidos parece obcecada em querer destruir tudo o que os chineses constroem. Mas os americanos cometem um erro crucial: a China não está construindo sozinha — ela trabalha em parceria com vários países por meio de uma política externa mais estável. Um ataque direto à China é um ataque indireto às economias de muitos países em desenvolvimento.
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