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Gentrificação e biodiversidade urbana
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Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Fabio Angeoletto ciência e saúde

Gentrificação e biodiversidade urbana

A gentrificação é também um agente de injustiças ambientais. Há uma correlação bem estabelecida na literatura científica entre bairros mais biodiversos e saúde humana. Moradores de bairros mais arborizados se exercitam mais, e paisagens verdes mitigam transtornos mentais
Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR)

Gentrificação é o processo de mudança pelo qual famílias com maior status socioeconômico (isto é, mais instruídas e com maior renda) deslocam famílias menos abastadas para bairros com menos recursos - inclusive recursos ambientais como áreas verdes. Cientistas liderados pelo ecólogo Seth Magle publicaram na revista PNAS um estudo amplo sobre como a gentrificação influencia os padrões de diversidade urbanos. No artigo, intitulado "Gentrification drives patterns of alpha and beta diversity in cities", os pesquisadores analisaram milhares de imagens de mamíferos obtidas com armadilhas fotográficas em 23 cidades dos Estados Unidos.

Magle e seus colegas argumentam que, ecologicamente, a gentrificação pode alterar quais espécies estão presentes nos bairros de várias maneiras. À medida que a gentrificação traz um influxo de residentes mais ricos para um bairro, o número de espécies de mamíferos provavelmente aumentará, na medida que os residentes investirem mais recursos na gestão da paisagem (por exemplo, em quintais bastante vegetados). Por outro lado, a gentrificação ocasionará um aumento de infraestruturas verdes (como parques) porque moradores de classe média alta possuem mais influência política.

Os resultados da pesquisa indicam que a gentrificação molda a diversidade de mamíferos nas cidades dos Estados Unidos. Bairros que sofreram gentrificação usualmente tem um maior número de espécies de mamíferos do que bairros habitados majoritariamente por famílias pobres. Tais mudanças induzidas pela gentrificação na comunidade de mamíferos são provavelmente devidas a aumentos associados à riqueza na cobertura vegetal (por exemplo, mais árvores nas calçadas) à contratação de paisagistas profissionais para a introdução de arbustos e árvores em jardins e quintais e mais dinheiro investido em irrigação, o que coletivamente, aprimora a qualidade do habitat para os mamíferos.

Mas a gentrificação é também um agente de injustiças ambientais. Há uma correlação bem estabelecida na literatura científica entre bairros mais biodiversos e saúde humana. Moradores de bairros mais arborizados se exercitam mais, e paisagens verdes mitigam transtornos mentais. Seth Magle e seus colegas enfatizam, no artigo, a necessidade crítica de políticas atualizadas de desenvolvimento e gestão do solo, bem como de mecanismos legais para dar prioridade à equidade socioambiental. n

 

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