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A elite que não é rastaquera
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Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Fabio Angeoletto ciência e saúde

A elite que não é rastaquera

O empresário multimilionário Bernardo Paz legou à cidade de Brumadinho o Instituto Inhotim. O Inhotim é o maior museu a céu aberto do mundo, e nos seus 786 hectares há dezenas de esculturas. Uma iniciativa louvável de conservação da biodiversidade
Tipo Análise
Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR)

O historiador Marco Antonio Villa popularizou a expressão "elite rastaquera", para se referir aos brasileiros ricos, que, embora ostentem muito poder, estão muito distantes do significado do termo na Antiguidade. Para os antigos elite estava relacionada a conceitos como virtude e sabedoria. É fácil distinguir essa realeza chinfrim: eles - e elas - tem uma necessidade maníaca de se distinguir de nós, os que vivem um dia após o outro trabalhando e equilibrando-se entre boletos e fiados. Então, exibem seus aviões e iates e suas casas luxuosas e breguíssimas. Eike Batista estacionava sua Lamborghini na sala de sua casa. Também é importante para a elite rastaquera ostentar um estilo de vida impossível para os comuns.

Até aqui, apenas gente com muita grana, cafona e pobres de espírito. Bem, não são apenas essa mescla lamentável. A elite rastaquera é incapaz de pensar sobre o país, seus rumos e dilemas, e influir, com seu poderio econômico, para que trilhemos por caminhos mais promissores. Ao contrário, essa "elite" é extrativista: exaure corpos, comunidades, cidades e a biodiversidade brasileira. Sugar, depauperar, degradar, arruinar, e viver em guetos de endinheirados em condomínios de luxo ou em Miami. Seus dólares habitam paraísos fiscais.

Há um contraponto? No Brasil a elite rastaquera são legiões, mas procurando um pouco, encontramos exemplos de cidadãos que estão conscientes da responsabilidade social que a fortuna impõe. O antropólogo e professor Stelio Marras firmou um acordo com a Universidade de São Paulo, e legou à universidade, em testamento, seu patrimônio, avaliado em 25 milhões de reais. Quando ele falecer, esse dinheiro vai financiar centenas de bolsas para estudantes pobres.

Outro exemplo vem de Minas Gerais. O empresário multimilionário Bernardo Paz legou à cidade de Brumadinho o Instituto Inhotim. O Inhotim é o maior museu a céu aberto do mundo, e nos seus 786 hectares há dezenas de esculturas. Aquela é também uma iniciativa de conservação da biodiversidade. O Instituto emprega biólogos, agrônomos, paisagistas e outros profissionais que trabalham para a preservação da Mata Atlântica que emoldura suas obras de arte. Passeando pelo Inhotim, eu, um pessimista empedernido, consigo ter um pouco de esperança e vislumbrar um país mais justo. O que precisamos no Brasil é de mais gente rica de espírito. n

 

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