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Na questão ambiental, venceu o mal menor
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Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Fabio Angeoletto ciência e saúde

Na questão ambiental, venceu o mal menor

Todos os prefeitos do Brasil são iletrados ambientais, e os eleitos em 2024 não são exceções. Mas existe aí uma distinção importante: o candidato derrotado em Fortaleza, assim como seus pares bolsonaristas, abraça deliberadamente o analfabetismo ambiental, cultiva-o e exerce-o como profissão de fé

Platão, no seu livro "Apologia de Sócrates", registra, em uma paráfrase, a afirmação de Sócrates: "eu não sei nem penso que sei". Com o registro, Platão demonstra a sapiência de Sócrates, que estabelece com lucidez os limites do seu conhecimento, e não imagina, nem se permite fazê-lo, saber o que não sabe. Ora, saber que não sabemos deveria ser o impulso mais vigoroso em busca do conhecimento que floresça em soluções. Todos os prefeitos do Brasil são iletrados ambientais, e os eleitos em 2024 não são exceções. Mas existe aí uma distinção importante: o candidato derrotado em Fortaleza, assim como seus pares bolsonaristas, abraça deliberadamente o analfabetismo ambiental, cultiva-o e exerce-o como profissão de fé.

As propostas de André Fernandes (PL) para o meio ambiente eram um amontoado de platitudes sem nenhuma menção às mudanças climáticas e aos desafios que o clima impõe a Fortaleza. Não por acaso. No governo de Jair Bolsonaro, um ministro inimigo do meio ambiente foi forçado a afastar-se do seu cargo, diante das evidências de facilitação à exportação de madeira extraída criminosamente das florestas brasileiras.

O governo Bolsonaro cortou 93% dos recursos destinados à pesquisas sobre mudanças climáticas, e abandonou o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas, instituído em 2016. Flávio Bolsonaro, provável candidato do PL à Presidência em 2026, negou, em discurso no plenário do Senado, que as tragédias ambientais cujas chuvas devastaram cidades, ecossistemas, colheitas e vidas no Rio Grande do Sul tivessem relação com o aquecimento global. São negacionistas orgulhosos do seu analfabetismo científico.

Sem embargo, não há muito a comemorar. A questão ambiental nunca foi uma prioridade entre os partidos de esquerda. Veja, por exemplo, os embates entre o desenvolvimentismo de Dilma Rousseff e a agenda conservacionista de Marina Silva, durante o governo Lula, com a vitória de Dilma. Desde então, agendas ambientais têm conquistado algum espaço no PT e nas esquerdas. Evandro Leitão, em suas propostas, reconheceu o aquecimento global e a urgência de preparar Fortaleza para não submergir aos efeitos deletérios das mudanças climáticas. É pouco, mas Evandro, ele também um iletrado ambiental, ao menos comprometeu-se em conhecer e buscar soluções aos desafios socioambientais da capital cearense.

 

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