
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Atualmente testemunhamos a quarta revolução industrial. As inovações tecnológicas alteraram a maneira como as economias operam e a maneira como as pessoas interagem com os ambientes naturais, sociais e construídos. Uma área de transformação é o surgimento da robótica e sistemas autônomos (RAS), definidos como tecnologias que podem sentir, analisar, interagir e manipular seu ambiente físico. Robótica e sistemas autônomos incluem veículos aéreos não tripulados (drones), carros autônomos, robôs capazes de reparar a infraestrutura e redes de sensores sem fio usadas para monitoramento. Portanto, a robótica e sistemas autônomos têm uma ampla gama de aplicações potenciais, como transporte autônomo, coleta de lixo, manutenção e reparo de infraestruturas, vigilância e agricultura de precisão. A robótica e sistemas autônomos revolucionaram a forma como os dados ambientais são coletados e as populações de espécies são monitoradas para conservação e/ou controle. Globalmente, o mercado de RAS deve crescer de US$ 6,2 bilhões em 2018 para US$ 17,7 bilhões em 2026.
Paralelamente a essa revolução tecnológica, a urbanização continua em um ritmo sem precedentes. Em 2030, cidades cobrirão mais 1,2 milhão de km2 da superfície do planeta, com aproximadamente 90% desse desenvolvimento ocorrendo na África e na Ásia. Sete bilhões de pessoas viverão em áreas urbanas em 2050. A urbanização causa perda, fragmentação e degradação de habitats, bem como alterações climáticas, na hidrologia e nos ciclos biogeoquímicos, resultando em novos ecossistemas urbanos que não possuem análogos naturais. Quando mal planejada e executada, a expansão urbana ocasionar um declínio substancial do bem-estar humano.
Há pouco conhecimento das maneiras pelas quais a ampla adoção e implementação de RAS podem afetar a biodiversidade e os ecossistemas urbanos. Sem uma compreensão das oportunidades e desafios que a robótica e sistemas autônomos trarão, sua adoção pode prejudicar o fornecimento de ambientes naturais de alta qualidade nas cidades. Esses ambientes são essenciais para o suporte de populações importantes de muitas espécies que ocorrem nas cidades – inclusive espécies ameaçadas. Eles também são essenciais para o fornecimento de serviços ecossistêmicos que beneficiam as pessoas.
Cientistas de diversos países, inclusive o Brasil, pesquisaram, coletaram e sistematizaram o conhecimento de 170 experts em robótica e sistemas autônomos, de 35 países. O estudo, intitulado “A global horizon scan of the future impacts of robotics and autonomous systems on urban ecosystems” [https://www.nature.com/articles/s41559-020-01358-z], foi publicado na revista Nature Ecology & Evolution.
Os experts em robótica e sistemas autônomos destacaram oportunidades para melhorar a forma como monitoramos a natureza, como, por exemplo, a identificação de pragas, e uma maior eficácia na gestão da vegetação urbana. À medida que a robótica, os veículos autônomos e os drones se tornam mais amplamente utilizados nas cidades, a poluição e o congestionamento do tráfego podem diminuir, tornando as cidades lugares mais agradáveis.
Mas os pesquisadores também alertaram que os avanços na robótica e na automação podem ser prejudiciais ao meio ambiente. Por exemplo, robôs e drones podem gerar novas fontes de resíduos e poluição, com implicações negativas potencialmente substanciais para a natureza urbana. As cidades podem ter que ser replanejadas para fornecerem espaço suficiente para robôs e drones operarem, o que levaria a uma perda de áreas verdes. E eles também podem aprofundar injustiças ambientais, como o acesso desigual aos espaços verdes urbanos.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.