Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Um vigarista venceu as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Mas Donald Trump não é um criminoso usual, da cepa gestada por ambição pelas fartas arcas estatais. Se fosse, os reveses seriam menores. Trump tem um projeto para os EUA maturado em uma lista de ódios a grupos e atividades diversas, que incluem as ciências.
Ele tem afirmado que "o aquecimento global é uma das maiores fraudes de todos os tempos. "Os EUA emitem 25% dos gases de efeito estufa, e sob Trump o país deixará o Acordo de Paris. Atingir as metas do Acordo demandariam emissões ainda menores do que as estabelecidas aos demais países. Não vai acontecer. Ao contrário: países têm aumentado suas emissões de carbono, inclusive o Brasil.
Trump seria um revés — monumental, mas temporário — no caminho da humanidade a um mundo melhor? Nesses tempos sombrios, vale a leitura de "Cachorros de Palha" e de outros livros de um intelectual lúcido, John N. Gray. Ele dissecou o mito do progresso: essa seita secular abraçada por (quase) todos os cientistas e intelectuais.
Nas palavras de Gray: "Atualmente a maior parte das pessoas pensa que pertence a uma espécie que pode ser senhora do seu destino. Isso é fé, não ciência. Não falamos de um tempo em que as baleias ou os gorilas serão senhores de seus destinos". O progresso científico é inquestionável, mas o progresso na ética e na política é uma ficção, escreve o filósofo.
A ciência aumenta o poder humano, mas também sua irracionalidade. A ciência demonstra a catástrofe das mudanças climáticas, e numa outra de suas ramas, permite-nos seguir extraindo petróleo. Ainda assim, é uma idiotice prescindir dessa ferramenta, como faz Trump.
Nossa história não é uma viagem a um futuro de prosperidade, onde alcançaríamos a imortalidade. Risos? Essa era a crença dos soviéticos quando embalsamaram Lênin. Não. O destino do Homo sapiens é a viagem sem destino, aleatória. Tempos de bonanças e de gargalos. Florescimentos e ruínas. O vagar pelas ondas do acaso, sina de todas as espécies da Biosfera.
Mas há uma certeza na nossa incontingência. Como sempre na história do Homo sapiens, os pobres sofrerão muito mais com o caos climático.
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