Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha
Vários mitos permeiam as ações de acadêmicos e militantes ambientalistas. São “vacas sagradas”: ideias consensuais politicamente corretas sobre a questão ambiental, mas que, postas em prática possuem consideravelmente menos efetividade do que alardeia o senso comum.
A criação de reservas naturais é um desses mitos. A ideia é bastante razoável: delimitar áreas de grande incidência de biodiversidade, dando-lhes o status de área protegida, e, portanto, a salvo de impactos ambientais. Obviamente, há que se ordenar minimamente um território a fim de que a expansão das atividades humanas seja menos predatória.
Mas poucos se perguntam da real capacidade dessas reservas em proteger ecossistemas. Festejamos um decreto criando um novo parque nacional, mas o fato é que os recursos para o gerenciamento dessas áreas é mínimo. E mesmo os parques com infraestrutura compatível não estão isentos de impactos. Podemos cercar uma área de floresta, mas não é possível murar a atmosfera ou os rios: os dejetos de nossas existências de consumo chegarão ali.
Em outras palavras, a criação de espaços protegidos é tão importante quanto a criação de cidades menos perdulárias, e com menos emissão de resíduos. Todos querem a preservação das florestas, mas quantos de nós estaríamos dispostos a diminuir, por exemplo, o uso do automóvel, em prol da natureza? A resposta-padrão a esta pergunta é: “basta educar a população para um uso racional dos veículos”.
Temos aí mais uma vaca sagrada da preservação ambiental: o argumento de que a educação ambiental é uma panaceia para todos os nossos dilemas. Que a educação seja uma ferramenta de mudanças, não se questiona. Mas atribuir a ela poderes tão amplos é ingenuidade ou má-fé. Ingenuidade de alguns profissionais que desconhecem a complexidade dos seres humanos: animais que são um amálgama de biologia e cultura, ao mesmo tempo altruístas e egoístas, solidários, mas igualmente tenazes na luta por sonhos, desejos e aspirações individuais.
Má-fé de poderes públicos que usam a educação ambiental como uma cortina de fumaça para ocultar a inércia na resolução de problemas impossíveis de serem equacionados somente com a democratização da informação.
No caso dos veículos particulares, os proprietários sabem que seus autos emitem poluição. Mas não vão reduzir seu uso por isso: pesquisas de opinião demonstram que 80% ou mais dos proprietários de veículos declararam ser impossível mudar seu estilo de vida. Problemas como esse demandam uma resposta que envolve múltiplas ferramentas. Educação ambiental pode ser uma delas, desde que aliada a planejamento urbano, legislação que restrinja o uso dos carros e taxação da emissão dos poluentes emitidos pelos automóveis.
Por outro lado, os planejadores comungam do ideário o qual preconiza que as cidades são forjadas principalmente por forças sociais e econômicas, e que a natureza desempenha um papel meramente estético, de embelezamento da urbe, através da criação de parques e espaços arborizados. Entre esses profissionais persiste a crença de que as cidades são a antítese da natureza. Nada mais ingênuo e distante da realidade.
As cidades não são o oposto da natureza. Ao contrário, as cidades são ecossistemas cuja biodiversidade é geralmente muito elevada. Conservar, e criar as condições para aumentar a biodiversidade urbana, e por extensão, dos benefícios que ela nos proporciona, é um dos grandes desafios atuais. Para tanto, precisamos abandonar as “vacas sagradas” e adotar perspectivas mais inteligentes face às miríadas de criaturas que são nossas parceiras na grande odisseia da vida.
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