Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Na Alemanha de 1933, alguns políticos conservadores apoiaram a nomeação de Hitler para o cargo de Chanceler. Acreditaram que podiam controlá-lo, e queriam direcionar a popularidade do partido nazista para seus próprios interesses.
No Ceará, em 2024, André Fernandes perdeu a eleição na capital, mas saiu dela maior do que entrou. Tomou de Wagner o posto de líder da oposição.
Wagner chegou a ter 624.892 votos em 2020, e quando disputou o governo do estado em 2022, saiu de Fortaleza com 602.050 votos. Agora, teve 159.426 contra 562.305 votos de André Fernandes. No segundo turno, André chegou a 705.295, votação jamais alcançada por Wagner.
Wagner atacou abertamente André durante a campanha. Acusou-o de imaturo, corrupto (nepotismo cruzado), despreparado. Terminou em 4º lugar, e de líder passou a liderado.
André conseguiu também deslocar para a extrema direita e desmoralizar parte do campo democrático. O candidato "antissistema" obteve no segundo turno o apoio dos que lideram a prefeitura nos últimos 12 anos.
Eleitoralmente, o PDT de Ciro já estava derrotado. Roberto Cláudio obteve, em Fortaleza, 299.816 votos para governador contra 545.677 de Elmano e 602.050 de Wagner. Ficou pior. Nesta eleição, o prefeito Sarto, no mandato e candidato à reeleição com o apoio de RC, obteve apenas 164.402 votos.
Ciro e Roberto Cláudio, no primeiro turno, disseram que André Fernandes era uma mentira, um estelionato, um cara do esquema do Bolsonaro, metido em rachadinha, roubalheira, que era um desequilibrado. No segundo turno, cruzaram a linha e aceitaram o papel de linha auxiliar do bolsonarismo. Lado a lado com Wagner, Roberto Cláudio faz campanha para eleger André prefeito de Fortaleza. E perdeu de novo.
André Fernandes é, hoje, o líder inconteste da oposição não só em Fortaleza, mas no Ceará.
Disto resulta grande incerteza. Em 2026, em razão da idade, André não poderá disputar nem o governo do estado, nem um lugar no senado. Será grande cabo eleitoral, mas não conhecemos seu poder de transferência de votos. Não sabemos se abandona o papel de jovem arrependido dos erros e bizarrices do adolescente ou se retoma o perfil agressivo, misógino e antidemocrático que o projetou, arregimentou seguidores, e o trouxe até aqui. André aceitou o apoio de Ciro & Cia na campanha, mas não sabemos se seu grupo está disposto a ceder espaço para Roberto Cláudio nas chapas majoritárias de 2026. É bom lembrar: o grupo de André Fernandes não depende de Roberto Cláudio para nenhum projeto eleitoral, é RC que hoje depende desse grupo.
Carmelo Neto, presidente do PL, e André Fernandes, principal líder político da extrema direita, são jovens demais, imaturos demais, deslumbrados demais. E agora têm em seu séquito Wagner e Roberto Cláudio; liderados que, em razão da experiência, imaginam exercer sobre os líderes alguma influência ou poder de moderação.
A cena me faz lembrar Franz von Papen e Paul von Hindenburg, que em 1933 imaginaram ser capazes de exercer poder e influência semelhantes sobre Hitler. Foram engolidos pelo nazismo. A ver o que o destino reserva a Wagner, a Roberto Cláudio e a todos nós.
Felizmente vencemos esta eleição.
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