Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e advogado. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Os Estados Unidos são um império em decadência. Por favor, vamos ler na sequência correta para não haver mal-entendido: primeiro é preciso destacar que os Estados Unidos são um império e continuarão a sê-lo ainda por um bom tempo. Sozinhos, representam mais de um quarto de toda a riqueza produzida no planeta Terra, são 26,1% do produto interno bruto mundial. Têm, sem contar com aquelas que são sigilosas, mais de 700 bases militares espalhadas em mais de 80 países: isto é algo entre 75% e 85% das bases militares estrangeiras no mundo. Para efeito de comparação o Reino Unido, segundo país com mais bases militares no exterior, tem 145; a Rússia tem 36; a China tem 08.
Dito isto é preciso agora ir à segunda parte da caracterização: este império está em decadência. Estima-se que em 50 anos, os Estados Unidos serão, não mais a primeira, mas a terceira maior economia do planeta. Terão sido ultrapassados pela China já em meados da próxima década, e pela Índia em meados dos anos 70 deste século. A China já é, hoje, a maior parceira comercial dos países da América Latina, da África e dos países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASsean). Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, 13,5% das famílias, ou seja, algo em torno de 18 milhões, tiveram dificuldades para garantir comida suficiente em 2023; e o Bank of America Institute, informou que em 2024, 30% de todas as famílias dos EUA relataram gastar mais de 95% de sua renda disponível em necessidades como moradia, alimentação e contas de serviços públicos. Este percentual sobe para 35% nas famílias que ganham até 50 mil dólares por ano.
Mas a decadência não se resume ao aspecto econômico, ela é também política. Os Estados Unidos já não lideram o mundo como antes. Não estão à frente de nenhuma iniciativa de construção ou de reconfiguração de organismos multilaterais, de tratados internacionais relevantes para o tema de migrações, mudanças climáticas, comércio ou desenvolvimento. Seu ideal de liberdade é eticamente torpe, contraria noções elementares de decência, humanidade, e revela o caráter vil, ignóbil, anacrônico e plutocrático de sua democracia e sistema político.
É neste contexto de império em decadência que Trump assume para um segundo mandato. Não há quem leve à sério suas declarações sobre o Canal do Panamá, o Golfo do México, o Canadá ou a Groenlândia. A retórica sobre isso é a caricatura da decadência.
Mas, em termos concretos, sua ação política enfraquece o multilateralismo, distancia o mundo das poucas soluções ainda possíveis para nossa convivência com extremos climáticos, aumenta a perseguição, o preconceito e a violação de direitos de migrantes e refugiados, força os limites da institucionalidade política na nação econômica e militar ainda mais poderosa do planeta, animando o populismo de extrema direita e a crise das democracias mundo afora.
Se a retórica xenófoba, racista, misógina, colonialista de Trump se transforma em ações de governo, não teremos a reversão, mas o aprofundamento da decadência do império, o aprofundamento das crises, da incerteza e dos perigos do tempo que nos toca viver. n
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