
Fernando Costa é sociólogo e publicitário
Fernando Costa é sociólogo e publicitário
No pôquer, é comum os jogadores blefarem para confundirem os adversários e tentarem vencer com cartas ruins. Na política também se blefa, e muito, mas, ao contrário do pôquer, na política os blefes normalmente resultam em tragédia e farsa, Napoleão I e Napoleão III.
Bolsonaro consegue, com talento e ousadia, ser tragédia e farsa num só momento histórico e não cansa, atributo de quem trabalha, o que não é o caso, de blefar da maneira mais absurda, mas mais absurda ainda é a capacidade que ele tem de convencer seus seguidores de que o óbvio é inabitual e que o ululante é incerto.
O recente caso da hospedaria húngara é digno de um romance de Georges Simenon. O que primeiro desperta curiosidade é como o jornal New York Times teve acesso às imagens de dentro da embaixada húngara enquanto a imprensa brasileira discutia os índices de aprovação e rejeição do governo Lula e do Davi no BBB.
A segunda curiosidade é mais uma obviedade: a total falta de inteligência funcional de Bolsonaro e de seus seguidores. No pôquer, antecipam-se jogadas, mas essa é a primeira vez que se ensaia uma fuga em público. Não chega a ser cômico; é só patético.
Mas, em um mundo em que Jair Bolsonaro e Viktor Orbán, o ditador húngaro, são classificados como os dois principais expoentes da direita radical mundial, fica fácil entender que o jovem Karl Marx estava coberto de razão ao afirmar que as pessoas só são capazes de agir nos limites que a realidade impõe e que a burguesia usa de qualquer subterfúgio ou personagens para manter a sociedade dividida em classes e ela no comando "naturalmente".
Fato é que hoje, mesmo Bolsonaro sendo o personagem tosco que é o Brasil, não anda. Desfila no fio da navalha. Somos uma democracia acuada pela extrema-direita, um congresso vassalo da bancada da bala e dos neopentecostais e de um governo que faz reverência a generais golpistas.
Bolsonaro ensaia fugir para a embaixada húngara porque é um apedeuta. Se tivesse dois neurônios, bastava se hospedar na residência oficial do presidente da Câmara Federal. O Brasil passa bem, mas vai de mal a pior. n
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