
Fernando Costa é sociólogo e publicitário
Fernando Costa é sociólogo e publicitário
No ano da graça de 1977, Ednardo gravou uma música chamada Receita da Felicidade, no disco Azul e Encarnado. A música termina com o seguinte verso: “quem guardou o meu futuro - me dê”.
No final do “ano bola na trave” de 2024 recebo, via e-mail, do Professor Dr. Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes uma resenha do livro intitulado: “O atraso do futuro e o homem cordial”, de Marcio Pochmann e Luís Fernando Vitagliano, autores do livro.
Uma tentativa de explicar como nós brasileiros estamos abandonamos à ideia de um projeto nacional diante das desesperanças impostas pelo século XXI.
Trocando em miúdos, os autores identificam um paralelo entre a migração do sistema agrário para o industrial e do industrial para o mundo digital, onde as duas migrações geraram um monstruoso exército de pobres desempregados, que eles chamam de massa sobrante de trabalhadores e que nem sempre são objeto de atenção dos governos. Sem a utopia de um projeto nacional, o futuro, mesmo sendo inexorável, foi cancelado e isso talvez explique um pouco a angústia, aliada à ansiedade, que encontramos em boa parte da nossa juventude.
Uma total falta de esperança colocada em cheque com a ascensão da extrema direita aqui, ali e alhures. Como é sabido, toda vez que a democracia se fragiliza o fascismo, como um vírus oportunista, se manifesta.
Neste mundo, neste país e nesta cidade, o nosso sonho “progressista” está abalado pela disputa da anomia coletiva das esquerdas e a heteronomia individualista da extrema direita. Pare de ler esse texto, abra qualquer rede social ou qualquer grupo de WhatsApp que você faz parte, seja da família, do condomínio ou do seu trabalho, e este conflito vai estar colocado diariamente na tela do seu celular.
O livro talvez, muito talvez, já que li apenas uma resenha e não o livro, parece ser mais um grito de alerta, uma tentativa de trazer, mais uma vez, para a luz dos refletores o antigo drama de que o projeto de “desenvolvimento nacional” ainda é regido pela mão invisível do mercado que, deliberadamente, combate qualquer perspectiva de futuro do que os autores chamam de corrente de via única, ou seja, uma tentativa de impedir que “a esperança se torne verso”.
O verso, “quem guardou o meu futuro - me dê”, que em 1977, com sua voz maviosa, Ednardo denunciava em sua música Receita de Felicidade, bem que poderia ser um bom título para o livro de Pochmann e Vitagliano.
Mas, como o espaço é curto e o tempo urge, vou ali no futuro, mas volto já, na esperança de que 2025 não seja apenas mais uma temporada de 2024.
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