Logo O POVO+
Collor à espera de Bolsonaro
Foto de Fernando Costa
clique para exibir bio do colunista

Fernando Costa é sociólogo e publicitário

Collor à espera de Bolsonaro

A história brasileira parece ter só dois modos narrativos: escândalo ou nostalgia. Às vezes, os dois ao mesmo tempo
Tipo Opinião
Fernando Collor está preso; lembre o que ex-presidente fez na vida política (Foto: ABR; Valter Campanato/Agência Brasil)
Foto: ABR; Valter Campanato/Agência Brasil Fernando Collor está preso; lembre o que ex-presidente fez na vida política

Em um giro inesperado — ou absolutamente previsível — da roda da história, Fernando Collor, ex-presidente, ex-caçador de marajás e ex-esperança de renovação, foi condenado a oito anos de prisão.

O Brasil, esse país que nunca decepciona quando o assunto é reviver tragédias como farsas (ou farsas como tragédias), assiste, agora, ao primeiro presidente eleito pós-ditadura receber um carimbo judicial definitivo: culpado.

Nos anos 1990, Collor, com seu topete engomado, confiscou a poupança de milhões de brasileiros com a mesma destreza com que, hoje, alguns confiscam a verdade em grupos de WhatsApp.

A diferença? Collor ao menos teve a decência de usar um discurso neoliberal. Já os atuais "salvadores da pátria" preferem o populismo digital, recheado de fake news, motociatas e frases de efeito que fariam inveja a qualquer coach de sucesso duvidoso.

A cereja do bolo? Collor foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Veja só que coincidência interessante: os mesmos crimes que rondam outro ex-presidente, Jair Bolsonaro — só que, agora, com uma pitada de joias sauditas e rachadinhas familiares.

A pergunta inevitável paira no ar como cheiro de café queimado: se Collor foi preso, quanto tempo falta para Bolsonaro ser colega dele na Papuda ou numa prisão familiar?

Bolsonaro já colocou as tripas de molho. Direto de uma UTI, promove um reality show bizarro com direito a lives e lava pés à moda Jesus Cristo, com Michelle no papel de Maria de Betânia, irmã de Lázaro, esquecendo apenas de enxugar os pés do marido com os cabelos como na cena bíblica.

Mas como é comum na tragicomédia bolsonarista de moribundo, ele rapidamente se transforma num cão feroz e esbraveja contra médicos e uma oficial de justiça que o notificou. Bolsonaro faz do seu calvário uma tentativa de mobilizar seus seguidores e evitar o inevitável.

Se a prisão de Collor é um lembrete de que a Justiça tarda, mas não falha (ou pelo menos tenta não falhar tanto), o cerco a Bolsonaro é um spoiler do próximo capítulo da nossa tragicomédia nacional. 

Afinal, a história brasileira parece ter só dois modos narrativos: escândalo ou nostalgia. Às vezes, os dois ao mesmo tempo.

Porque, no Brasil, o futuro não é incerto. Ele só é reprisado.

 

Foto do Fernando Costa

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?