
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Flávio Paiva é jornalista e escritor, autor de livros nas áreas de cultura, cidadania, mobilização social, memória a infância. Escreveu os livros
Durante um espetáculo no Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, em São Paulo (23/03), em que prestou homenagem a Tia Ciata (1854 - 1924), catalisadora musical baiana que teve grande relevância na gênese do samba carioca, o artista pernambucano Antônio Nóbrega presenteou a plateia com uma embolada cidadã intitulada "Sem Anistia", composição dele e de Rodrigo Sestrem e Wilson Freire.
A animada e ressonante "Sem Anistia", que tem melodia atiçada pelo ritmo de guerra do Caboclinho recifense, foi muito apropriada para a véspera do julgamento (25/03) do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou réus mentores e mandantes da trama golpista, instigadores da invasão e depredação dos prédios dos poderes da República no dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
Ao tempo em que afirma não ter perdão para os inimigos da democracia, a letra dessa embolada de carretilha traz à memória algumas características dos acusados: "quem vive da mentira", "quem fez piada com as mortes da pandemia", "quem fugiu sem pudor, patrocinou o horror e a Amazônia quis queimar", "quem clamou por ditadura e intervenção militar" e "quem, dia após dia, feriu a democracia com a sanha de matar".
O vídeo da apresentação ganhou a capilaridade das redes digitais, está no TikTok e no Instagram (@brincantenobrega), como se desse saltos e rodopios virtuais comemorando a vitória da democracia, mas também como reforço da peleja contra pedidos de anistia nesse processo, que terá em breve a instauração das execuções penais dos principais responsáveis pelos violentos atos contra os alicerces republicanos brasileiros.
Não é plausível pensar em anistia por anistia. A democracia pressupõe um conjunto de restrições como princípios norteadores da vida social e política; por isso, a sociedade precisa estar atenta a essas condições restritivas quando se fala em liberdade. O fato de a democracia primar pela coexistência de diferentes formas de estar no mundo não significa que deve ser complacente com quem pretende destruir essas conquistas.
Conflitos são inerentes à vida democrática, mas não aqueles que provocam o colapso da cidadania. Quem pede anistia aos implicados nos crimes de tentativa de destituição violenta do Estado Democrático de Direito, de organização criminosa armada e de danos ao patrimônio público do país, além de ameaça de morte ao presidente eleito, a seu vice e a um ministro do STF, joga contra a própria coletividade.
Os que querem se beneficiar da democracia para escapar da prisão e, posteriormente, tentarem novamente dizimá-la, sentem-se protegidos pelos novos impérios corporativos multinacionais, que estão ascendendo na geopolítica mundial como sucessores dos países que se diziam com a tarefa civilizatória do primeiro mundo sobre as periferias globais.
Assim como no imperialismo em declínio, os novos controladores dos destinos do planeta precisam de governantes locais brutais e sádicos, que sintam prazer em acabar com direitos sociais, que exibam com orgulho suas patentes de agentes de extermínio das populações indesejáveis e que troquem a soberania do país por algumas migalhas de falsos privilégios.
A vitalidade da democracia brasileira necessita que esses capangas da nova ordem imperialista das corporações multinacionais sejam presos. "Sem anistia / para quem, dia após dia, / feriu a democracia / com a sanha de matar", alerta o canto de Antônio Nóbrega, em carretilha de coco de embolada.
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